Peditório da AMI deverá render cerca de 20 mil euros, bem longe dos 140 mil de 2009

Secretária-geral da AMI diz que “a sociedade portuguesa neste momento está empobrecida”.

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Daniel Rocha

O peditório que a Assistência Médica Internacional (AMI) fez em Outubro deverá render cerca de 20 mil euros, destinados para o apoio social nos centros Porta Amiga, um valor muito distante dos 140 mil euros angariados num peditório em 2009.

Entre os dias 24 e 27 de Outubro, a AMI fez o seu 33º peditório nacional, uma forma de recolha de fundos para financiamento de projectos que começou em 1994, na altura uma vez no ano, e que a partir de 2013 passou a ser bianual.

A secretária-geral da AMI adiantou que o peditório de rua fez este ano 25 anos e que contas feitas ao valor angariado no total dos anos dá uma média anual de 106 mil euros.

De acordo Luísa Nemésio, a evolução dos peditórios e dos valores angariados tem seguido a tendência da economia nacional e mundial e sentido as consequências dos períodos de crise. “Fizemos um peditório anual até 2013 e nos melhores anos, entre 2002 e 2009, chegávamos a fazer entre 130 mil a 140 mil euros num peditório. Em 2010, na altura da crise, o peditório anual baixou de 140 mil para 85 mil e em 2013 resolvemos fazer [o peditório] duas vezes por ano para colmatar esse problema”, explicou a responsável.

E se nesse ano a solução resultou e conseguiram angariar 140 mil euros entre os dois peditórios, a partir daí o valor tem vindo sempre a decrescer e “em 2016 tornou a baixar bastante”, passando de 100 mil para 77 mil euros.

“Isto tem a ver com os períodos de crise e nota-se que as pessoas, quando têm menos dinheiro, dão menos. Este ano pensamos alcançar os 40 mil, ou seja, isto tem descido de 100 [mil euros] para 77 [mil euros], para 62 [mil euros], para 40 [mil euros] e eu penso que a sociedade portuguesa neste momento está empobrecida”, apontou Luísa Nemésio.

A responsável adiantou que no primeiro peditório deste ano a AMI conseguiu recolher 20 mil euros e que a expectativa é de repetir esse valor no segundo peditório, explicando que ainda não sabe o valor final angariado por se tratar de um processo com alguma complexidade.

Explicou que os peditórios foram criados na altura em que a AMI começou o seu trabalho de acção social em Portugal, dez anos depois da criação da organização não- governamental (ONG), e que, por isso, a verba angariada seria para esses projectos.

De acordo com Luísa Nemésio, a AMI tem 15 equipamentos distribuídos pelo país e um valor próximo de 50 mil euros “dá para acompanhar mil pessoas durante dois meses” nos centros Porta Amiga, onde há assistentes sociais que tentam perceber quais as necessidades de quem procura ajuda e depois tentam encontrar a melhor solução, seja dentro da AMI ou noutra organização.

Relativamente à quebra no valor angariado, a secretária-geral da AMI também apontou que a ONG está cada vez mais condicionada em relação aos locais onde pode fazer peditórios, tendo em conta que “as pessoas estão cada vez menos na rua e mais nos centros comerciais”.

“O problema é que os centros comerciais não permitem a abordagem das pessoas e nas grandes cadeias dos hipermercados também não permitem à porta, preferem a angariação de bens, obviamente se entende que é melhor para eles, não é?”.

Por outro lado, a Câmara Municipal de Lisboa passou a exigir o pagamento de taxas pela colocação de bancadas na rua, quando antes o fazia de forma “pro-bono”. A juntar a isto, a AMI tem tido cada vez mais dificuldade em angariar voluntários para estes peditórios.

Ainda assim, a responsável deixou a garantia que o financiamento e funcionamento da AMI não estão em causa, já que a ONG tem um orçamento anual e também fundos próprios.