A Austrália está a ser devastada pelos maiores incêndios florestais de sempre — e podem durar meses
A Norte e a Sul, os incêndios progridem descontrolados. Autoridades pedem à população e aos visitantes que saiam da rota do fogo, que não arrisquem a vida. Fazem-se avisos e apelos: “As condições vão piorar”, “este é o momento de sair”.
Mais de 150 incêndios devastam as costas Leste e Oeste da Austrália, 40 deles fora de controlo, com as autoridades a ordenarem nesta quarta-feira à população e aos turistas que abandonem as zonas na rota das chamas, que avançam a grande velocidade.
Com a intensidade do vento seco a aumentar, e os fogos a aproximarem-se das grandes cidades, o Governo advertiu que o perigo vai aumentar. “As condições vão piorar”, já tinha dito na terça-feira à noite Shane Ftitzsimmons, comissário do Serviço de Incêndios Florestais. “Ainda vão alastrar muito antes de atingirem o pico da previsão”, vincou.
A protecção civil emitiu uma ordem de “saída imediata” para várias regiões, incluindo Noosa, uma estância balnear perto de Brisbane, estado de Queensland, no Norte do país. Na noite de terça para quarta-feira houve um arrefecimento em Nova Gales do Sul (sudeste, onde se situa Sydney), mas o cenário piorou em Queensland, onde 80 fogos ameaçam vidas e casas.
“Esperemos que as pessoas ouçam o nosso apelo e entendam o nosso trabalho e que se tiverem dúvidas percebam que este é o momento de saírem”, disse Greg Christensen, presidente da câmara de Scenic Rim (Queensland). “Nunca tivemos fogos florestais como estes”.
Ian Wheeler, que vive na pequena aldeia de Killabakh, em Nova Gales do Sul, contou ao Guardian que há vários dias que está envolvido em fumo. “Nunca vi nada igual”, disse enquanto corria de um lado para o outro, tentando proteger a propriedade, e agradecia ao helicóptero que acabava de despejar água nos terrenos confinados por montanhas em três frentes. As montanhas estão a arder.
“Toda a montanha está incandescente. Nunca vi nada como isto”, disse Wheeler.
“O fogo vem de todas as direcções”, acrescentou a sua companheira, April Walsh. “O fogo vinha de uma direcção, depois vinha do outro lado, depois do lado oposto... Está à nossa volta”.
“A complacência mata”, reforçou Shane Ftitzsimmons reforçando que os habitantes, exaustos, e os visitantes têm de sair do caminho do fogo.
Porque, disse, citado pela Reuters, primeiro há que salvar vidas. “O verdadeiro desafio é que temos uma enorme quantidade de território em chamas. E não vão ser apagadas em dias, semanas, meses. Infelizmente, as previsões dizem que as temperaturas vão continuar acima da média e a chuva abaixo da média nos próximos meses, e o Verão está quase a chegar”.
Os incêndios fizeram eclodir um aceso debate sobre as alterações climáticas e sobre as políticas de prevenção de fogos, com o Partido Liberal, no governo, e os Verdes Australianos, na oposição, a trocar acusações.
Um antigo vice-primeiro-ministro, Barnaby Joyce, acusou os ambientalistas de serem também responsáveis pela propagação dos fogos ao fazerem campanha contra as queimadas que limpam o solo seco.
“Temos que adaptar os nossos planos às situações”, disse a deputada independente Zali Steggall à estação de televisão australiana ABC. “O que queremos é um consenso que nos faça avançar para desenharmos um plano que adapte a Austrália ao aquecimento do clima”. O primeiro-ministro, Scott Morrison, que não tem querido comentar as mudanças climáticas, pediu moderação no debate.
Os incêndios florestais são comuns na Austrália, onde o Verão é quente e seco. Mas depois de três anos de seca, os incêndios deste ano começaram na Primavera, e com uma ferocidade inédita, diz a Reuters.
Os incêndios mataram já três pessoas e destruíram um milhão de hectares de floresta e terras agrícolas. Vegetação e fauna estão ameaçadas. E nos últimos dias as chamas destruíram 300 casas em Nova Gales do Sul, numa área que vai da costa à Grande Sydney. Até esta quarta-feira, neste estado e em Queensland, os prejuízos estavam avaliados em cerca de 31 milhões de euros, segundo o Conselho de Seguros da Austrália.