Domingos Duarte: “Se calhar, teria sido bom ficar no Sporting”
Em conversa com o PÚBLICO, o jogador reconhece que gostaria de regressar a Alvalade, mas garante que isto não lhe tira o sono. Até porque foi a ida para Espanha que lhe trouxe um objectivo de carreira: a chamada à selecção nacional.
Domingos Duarte está a conquistar, em Espanha, o estatuto que em Portugal nunca conseguiu ter. O Sporting não quis aproveitá-lo - Domingos chegou a dizer que o clube não contava com ele e que saiu por vontade própria -, o Desp. Chaves e o Belenenses tiveram-no, apenas, por empréstimo, e foi nos últimos meses, em Espanha, que o central de 24 anos conseguiu mostrar todo o potencial.
Depois de uma época com muitos jogos na Corunha, pelo Deportivo, em 2018-19, Domingos Duarte desceu da Galiza para a Andaluzia, para jogar no Granada. Titular na equipa surpresa da Liga espanhola, o central formado no Estoril e no Sporting tem sido alvo de muitos elogios, tendo até já marcado um golo ao Real Madrid e mantido a zero o trio do Barcelona Luis Suárez, Lionel Messi e Antoine Griezmann.
Os bons desempenhos resultaram na tão aguardada convocatória para a selecção portuguesa. Um objectivo de carreira, disse o jogador, numa conversa com o PÚBLICO, algumas horas antes de saber da chamada de Fernando Santos. O central falou, também, do Sporting, um capítulo ainda em aberto na carreira.
O Granada está a dois pontos da liderança da Liga espanhola [está já a quatro, após a jornada 13]. Serem campeões é uma “loucura” que já vos passou pela cabeça ou nem colocam essa hipótese?
A mensagem que tentamos passar é de tranquilidade e de a malta não ficar toda maluca com isto. Estamos a 27 jogos do final do campeonato e não faria sentido pensarmos já nisso.
Então, qual é o objectivo, nesta fase?
O objectivo é a permanência. É o objectivo de toda a gente. Claro que, com esta fase boa, a malta, sobretudo o adepto, já pede Europa. Mas vamos continuar “grão a grão”.
Pepe tem 36 anos, José Fonte 35, Bruno Alves 37 e Daniel Carriço 31, sendo que Rúben Semedo, Rúben Dias e Ferro têm sido os rostos da renovação na defesa da selecção nacional. Esperava que o seleccionador já tivesse olhado para si?
Acho que não é tanto a mim que deve colocar essa questão (risos). Claro que seria bom ir à selecção e, sinceramente, acho que tenho feito bem o meu trabalho.
Mas a selecção é a grande meta da carreira?
Para já, sim. Eu marco objectivos no futuro próximo e, a curto prazo, gostaria muito de ir à selecção nacional e ser internacional A.
E no próximo ano há Europeu…
Haver há, de certeza. Se é para mim é que não sei (risos). Mas não penso muito nisso. Se as coisas correrem bem em Espanha, estarei mais perto disso [ir ao Euro 2020].
Para quem não o conhece, como é que define as suas principais virtudes?
Acho que tenho boa saída de bola, sou forte no jogo aéreo e relativamente rápido para acompanhar bolas nas costas. E acho que percebo bem o jogo.
Chegou a dizer que Vidic, Sérgio Ramos e Pepe, três jogadores duros, eram as suas referências. O Domingos ainda é dos que acredita que um central tem de ser agressivo e forte nos duelos ou enquadra-se mais no modelo actual, em que se pede, sobretudo, velocidade e boa saída de bola?
Acho que ter a qualidade de saber sair a jogar pode ajudar, no futuro, a dar passos em frente. Mas não podemos esquecer-nos de que, primeiro, estamos lá para defender e não para atacar.
O Domingos tem-se destacado na Liga espanhola - para alguns, o campeonato que tem mais talento individual. Qual foi, até agora, o adversário mais difícil de marcar?
O mais difícil foi o [Luis] Suárez. E o Ávila, do Osasuna. São muito parecidos, com muito jogo físico, ainda que seja um registo no qual me sinta confortável. Espere… esqueci-me de um! O mais difícil foi o Benzema [o francês marcou na derrota do Granada por 4-2 frente ao Real, jogo em que Domingos também facturou]
Chegou a fazer uma pré-época com o Jorge Jesus, mas decidiu sair, para poder jogar com regularidade. Curiosamente, o André Pinto, que era o terceiro central, acabou por fazer 17 jogos nessa temporada. Arrepende-se de não ter aceitado ficar no plantel?
Bom, não sei se 17 jogos são assim tanto... Ainda assim, se calhar teria sido bom ficar no Sporting, até porque o Coates teve algumas lesões. Mas não vou pensar no que poderia ter acontecido, porque já não posso mudar nada.
Guarda alguma mágoa por não ter sido aposta no Sporting?
Nenhuma mágoa. Nada. Comigo, sempre foram sinceros.
Mathieu tem 36 anos. Acha que o final da carreira do francês, pelo menos em Portugal, poderá ser uma janela para voltar ao Sporting? Nesta fase, fá-lo-ia com outro estatuto…
Claro que é uma coisa que me passa pela cabeça, mas, de momento, estou bem em Espanha. Não é que não veja o regresso com bons olhos, porque sempre foi o clube em que quis jogar, mas, de momento, estou bem no Granada.
Há três jogadores que chegaram a jogar consigo no Sporting, mas que estão a ter anos muito diferentes: o Matheus Pereira está, finalmente, a explodir em Inglaterra, o Francisco Geraldes continua a não conseguir afirmar-se e o Bruno Wilson tem dado nas vistas em Tondela. Que opinião tem do percurso deles?
Se calhar, falta-lhes a oportunidade. O que toda a gente sabe é que têm um potencial enorme. Seguramente vão aparecer no futebol mundial.
O que acha que lhes falta para subirem de patamar?
Falta a pontinha de sorte. Ao Matheus, a época está a correr-lhe muito bem e o campeonato inglês é o certo para ele. O caso do Francisco é mais complicado. A Grécia é sempre difícil, com muitos interesses. Espero que, em Janeiro, encontre uma solução para ele. Seria o ideal, porque é um mágico. Já o Bruno Wilson é outro caso. Nós íamos sempre juntos de autocarro para a Academia [Domingos nunca viveu na Academia, fazendo o percurso Cascais-Alcochete todos os dias] e sempre lhe disse que, se tiver a cabeça no sítio certo, pode chegar onde quiser.