Rio quer “inverter tendência” nas autárquicas, mas admite ser difícil vencer PS em 2021

Directas confirmadas a 11 de Janeiro e congresso entre 7 e 9 de Fevereiro. Conselho Nacional não apreciou proposta para abrir a votação a todos os militantes.

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Rui Rio e Salvador Malheiro no Conselho Nacional do PSD em Bragança, sexta-feira à noite LUSA/PEDRO SARMENTO COSTASTR

O presidente do PSD apontou como objectivo para as próximas autárquicas “inverter a tendência de queda” e recuperar muitas câmaras, admitindo que será difícil numa eleição ultrapassar a diferença para os socialistas e vencer o PS.

No final de uma reunião de mais de quatro horas do Conselho Nacional, que decorreu em Bragança, na noite de sexta-feira, Rui Rio foi questionado pela análise da situação política que fez perante os conselheiros, em que desdramatizou os resultados das legislativas e apostou nas autárquicas de 2021.

“Temos de apostar a sério nas autárquicas para inverter a tendência de queda e ter uma tendência de subida real, não é ganhar mais duas ou três câmaras”, afirmou.

O líder do PSD salientou que os resultados do PSD têm vindo a cair, “um pouco em 2009 e depois o desastre em 2013 e 2017”, em que o partido alcançou a vitória em 98 municípios (sozinho ou em coligação) contra 161 do PS. “Temos de começar a recuperar essa diferença”, disse.

Questionado se o objectivo é ou não ter mais câmaras do que o PS, respondeu: “O objectivo é inverter a tendência e começar a subir, se puder ter mais que o PS tanto melhor, mas para termos caído como caímos demorámos 12 anos, não vou dizer que são precisos outros 12 anos para voltar a subir, mas é difícil fazer tudo isso só em quatro anos”, admitiu.

“Se demorou três eleições a passar de 151 câmaras para 90 e tal, não queira numa só eleição passar de 90 e tal para 150. (…) Custa muito mais a cair e custa muito mais a subir”, reiterou. Rio recusou que tal signifique uma admissão de derrota, reiterando que o objectivo é “conquistar muito mais câmaras”.

“Desde sempre digo que as autárquicas são a verdadeira implantação do partido no terreno”, afirmou, considerando que se o número de deputados pode variar facilmente, é pelo número de câmaras, juntas de freguesia e vereadores que se mede o poder do partido.

Já sobre as legislativas de 6 de Outubro, em que o PSD obteve 27,7% dos votos e 79 deputados (menos dez do que na anterior legislatura), Rio diz que “aritmeticamente é uma derrota”. “Se o PS tem mais votos e o PSD menos, obviamente o PS ganhou e o PSD perdeu”, afirmou.

No entanto, apontou a circunstância de ter defrontado um primeiro-ministro em exercício, a situação económica internacional favorável e ter tido uma “guerra” interna permanente. “Há uma serie de circunstâncias que fazem com que o resultado seja um resultado positivo, embora em valor objectivo seja uma derrota”, considerou.

Directas a 11 de Janeiro

O Conselho Nacional do PSD aprovou a marcação de eleições directas para 11 de Janeiro e congresso entre 7 e 9 de Fevereiro, com a Mesa a recusar apreciar uma proposta para abrir a votação a todos os militantes.

Segundo fonte oficial do PSD, a proposta da secretaria-geral de regulamento para as eleições directas do presidente da Comissão Política Nacional (CPN) e do 38.º Congresso foi aprovada com 58 votos a favor, dez abstenções e seis contra.

Pelo caminho ficou a proposta apresentada pelo presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, de alteração ao regulamento para que todos os militantes pudessem votar independentemente do pagamento de quotas.

Em declarações aos jornalistas no final da reunião, o secretário-geral do PSD, José Silvano, explicou que a Mesa do Conselho Nacional entendeu não aceitar a proposta “porque violava os estatutos do partido, que dizem que para eleger e ser eleito é preciso ter as quotas em dia” na altura da eleição.

O presidente do PSD, Rui Rio, reiterou o entendimento da Mesa de que a proposta apresentada violava os estatutos do partido e considerou que qualquer alargamento, quer a todos os militantes, quer a simpatizantes, terá de passar por uma alteração em Congresso.

“Dentro disto, quanto mais militantes pagarem a sua quota - e não outros a pagarem por eles - melhor, por isso estamos a fazer um esforço muito grande de sensibilização das pessoas, mas não vamos mascarar isso e arranjar um qualquer esquema para parecer, isso não faz o meu feitio”, afirmou.

Já Almeida Henriques, apoiante do candidato à liderança do PSD Luís Montenegro, explicou que se tratava de uma questão de fundo e não apenas burocrática. “Tratava-se de ver se o partido quer começar com estas eleições a ganhar as eleições daqui a quatro anos e não ficar dentro da trincheira”, afirmou aos jornalistas.

O autarca de Viseu disse sair do Conselho Nacional de “consciência tranquila” por ter trazido este assunto à reunião, mas salientou que as regras vão ser “iguais para todos”. “O futuro presidente do partido podia ser eleito por muito mais pessoas do que aquilo que vai ser”, lamentou.

De acordo com o regulamento hoje aprovado, 16 de Dezembro será a data limite para pagamentos de quotas por vale postal (só permitido a militantes com mais de 60 anos) e 22 de Dezembro o prazo final para os restantes meios de pagamento. Só poderão votar os militantes que tenham as quotas em dia e que estejam inscritos no PSD há pelo menos seis meses, sendo expressamente proibido o pagamento de quotas em numerário.

Nas últimas directas do PSD, em 13 de Janeiro de 2018, votaram 44.254 militantes, de um universo de 70.835 com as quotas em dia no fecho dos cadernos eleitorais (15 de Dezembro).

O regulamento hoje aprovado refere ainda que as candidaturas à liderança do PSD terão de ser apresentadas até às 18h de 30 de Dezembro, subscritas por um mínimo de 1.500 militantes com capacidade eleitoral e obrigatoriamente acompanhadas de uma Proposta de Estratégia Global e de um orçamento de campanha.

Até agora, são candidatos à liderança do PSD o presidente Rui Rio, o antigo líder parlamentar Luís Montenegro e o vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, Miguel Pinto Luz.