Investigação revela potencial antibacteriano dos cogumelos shiitake
A espécie de cogumelos tem potencialidades antibacterianas que podem ser usadas no tratamento de doenças como o pé diabético.
Os cogumelos shiitake (Lentinula edodes) têm potencialidades antibacterianas que podem ser usadas no tratamento de doenças como o pé diabético, revelou este sábado à Lusa a investigadora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) Ana Afonso.
“A resistência bacteriana é um problema de saúde pública e por esse motivo iniciámos este estudo que demonstra que os cogumelos shiitake ajudam a combater as bactérias mais resistentes”, concretizou a investigadora da UTAD.
Segundo os investigadores envolvidos no projecto, os cogumelos shiitake, uma das espécies de cogumelos mais comercializada a nível mundial, possui importantes propriedades organolépticas, mas também biológicas. “Esta espécie é o principal alvo de estudo no Fungitech, um projecto de investigação e desenvolvimento tecnológico que envolve a empresa Floresta Viva e a UTAD e que tem como objectivo desenvolver, através de uma abordagem multidisciplinar, soluções inovadoras para o sector da produção dos cogumelos e aumentar o conhecimento científico acerca das propriedades medicinais do Shiitake e de outras espécies de cogumelos”, indicou Ana Afonso.
No âmbito deste projecto, as investigadoras Ana Afonso e Juliana Garcia, com a supervisão da especialista na área da micologia Guilhermina Marques, avaliaram o potencial antibacteriano de extractos aquosos de duas variedades do cogumelo shiitake contra a Staphylococus aureus, uma bactéria que pode provocar desde uma simples inflamação até as infecções mais graves de difícil controlo médico. “Actualmente, a resistência bacteriana constitui uma das mais graves ameaças à Saúde Pública, havendo bactérias que são resistentes a mais do que uma classe de antibióticos”, frisou a investigadora.
Segundo os envolvidos neste estudo, a Staphylococus aureus resistente à meticilina (antibiótico de pequeno espectro pertencente às penicilinas) é um “agente patogénico prioritário” que está incluído no grupo de “prioridade alta” segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo um dos principais microrganismos responsáveis por infecções associadas aos cuidados de saúde. “O fenómeno de resistência aos antibióticos tem exigido a procura de alternativas”, disse Ana Afonso.
Os resultados até agora obtidos mostram a potencialidade dos extractos de shiitake na prevenção de infecções pela bactéria Staphylococus aureus resistente à meticilina, destacando-se as úlceras de pé diabético. "As úlceras de pé diabético são uma das principais complicações crónicas da diabetes, considerando-se como um problema crescente em todo o mundo e com um impacto socioeconómico significativo”, enfatizam os investigadores envolvidos neste estudo da UTAD.
Segundo os investigadores, que citam dados da Direcção Geral de Saúde (DGS), estima-se que em Portugal ocorram anualmente uma média de 1200 amputações não traumáticas dos membros inferiores resultantes desta patologia. “Agora, pretendemos alargar o estudo a outras bactérias multirresistentes e também avaliar a actividade antibacteriana de outras espécies de cogumelos”, vincou Ana Afonso.
Este será o tema de uma de duas palestras que este sábado à tarde serão proferidas no decurso do XXI Encontro Micológico Transmontano, que decorre no concelho de Mogadouro até domingo.