Líder da oposição do Camboja impedida de regressar ao país
Mu Sochua foi detida pelas autoridades da Malásia quando tentava embarcar num voo para o Camboja, para participar numa manifestação durante o fim-de-semana.
Uma das líderes da oposição do Camboja foi impedida de viajar para o seu país esta quinta-feira pelas autoridades da Malásia.
A vice-presidente do Partido Nacional de Resgate do Camboja (PRNC), Mu Sochua, tentava viajar de Kuala Lumpur para o seu país quando foi detida pela polícia malaia. O primeiro-ministro, Mahathir Mohamad, disse que a dirigente será deportada para outro país.
“Não queremos que usem a Malásia como base para a luta de outros países”, afirmou o chefe do Governo, citado pela Reuters. Outros membros da oposição no exílio também não conseguiram regressar ao Camboja.
O líder da oposição, Sam Rainsy, convocou uma manifestação para o próximo fim-de-semana, mas o Governo de Hun Sen tem intensificado a repressão perante o que diz ser uma “tentativa de golpe de Estado”.
O próprio Rainsy, que viaja de Paris para Banguecoque, poderá não conseguir entrar no Camboja, diz a Reuters. Tanto Rainsy como Sochua são alvo de mandados de captura pelas autoridades cambojanas e podem ser presos assim que aterrarem em Phnom Penh.
Sochua tinha já tentado entrar no país a partir da Tailândia, no mês passado, mas também se viu impedida de viajar. “Não iremos abortar o nosso plano para restaurar a democracia e estabelecer a paz”, afirmou a líder opositora ao Guardian.
O Camboja é governado desde 1985 por Hun Sen, mas nos últimos anos a repressão do regime tem-se intensificado. Em 2017, o PRNC foi dissolvido com o argumento de que estaria a preparar um golpe contra o Governo. Antes, um dos jornais mais respeitados pela sua independência tinha sido obrigado a encerrar, diminuindo ainda mais a margem de manobra para qualquer voz dissonante.
A dissolução do partido de oposição levou muitos dos seus elementos a abandonar o país, tal como Sochua e Rainsy.
Desde que se tornou pública a intenção da oposição em organizar uma manifestação no Camboja, a repressão voltou a disparar. Pelo menos 48 militantes do PRNC foram presos desde o início do ano e esta semana o Exército começou a fazer exercícios militares junto à fronteira com a Tailândia.
O vice-director para a Ásia da Human Rights Watch, Phil Robertson, disse ao Guardian que a conduta do Governo cambojano não passa de uma “manobra de propaganda destinada a domesticar a opinião pública”. “A onda de detenções de activistas do PRNC e a mobilização maciça de tropas e oficiais na fronteira com a Tailândia cheiram a desespero”, acrescentou.