Concelhia de Lisboa do PSD retira confiança política à vereadora Teresa Leal Coelho

A vereadora social-democrata é acusada de uma “total descoordenação com os órgãos do partido na cidade, consubstanciada pela verificação de algumas votações divergentes com o outro vereador do PSD em matérias politicamente sensíveis”.

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Teresa Leal Coelho Rui Gaudêncio

A concelhia de Lisboa do PSD anunciou esta quarta-feira ter decidido retirar a confiança política à vereadora social-democrata Teresa Leal Coelho, que deixará assim de representar o partido na autarquia da capital.

A direcção da concelhia do PSD aprovou uma deliberação que visa a retirada de confiança política à autarca, numa reunião da Comissão Política da secção de Lisboa, que começou na noite terça-feira e se prolongou até ao início da madrugada desta quarta-feira.

Os sociais-democratas começam por justificar a decisão com o facto de a vereadora ter votado a favor da recondução do ex-vereador do Urbanismo Manuel Salgado à presidência do conselho de administração da empresa municipal SRU — Sociedade de Reabilitação Urbana, desrespeitando a orientação de voto indicada pela concelhia, e permitindo a aprovação da proposta.

De acordo com o documento, ao qual a agência Lusa teve acesso, “atendendo às diversas posições públicas contrárias a esta nomeação, (...) constata-se que, sem o apoio e sem o voto da vereadora Teresa leal Coelho, a nomeação de Manuel Salgado não teria sido aprovada”.

"Total descoordenação" 

Na deliberação, assinada pelo presidente da concelhia de Lisboa do PSD, Rogério Jóia, a vereadora social-democrata é também acusada de uma “total descoordenação com os órgãos do partido na cidade, consubstanciada pela verificação de algumas votações divergentes com o outro vereador do PSD [João Pedro Costa], em matérias que são politicamente sensíveis e onde — certamente por coincidência — o PS se encontrava isolado e sem o apoio do seu parceiro de gestão autárquica”.

“A Comissão Política da secção de Lisboa do PSD deu oportunamente a conhecer, por escrito, aos vereadores do PSD, a orientação política para estes votarem contra esta nomeação”, acrescenta o documento, defendendo o que “o PSD nunca poderá ser entendido como um partido útil para as prejudiciais políticas do PS para a cidade de Lisboa, quando o BE [partido que tem um acordo de governação do concelho com os socialistas] lhe falha”.

A concelhia do PSD afirma que o partido “tem sido oposição à gestão autárquica da cidade de Lisboa, gizada pelo arquitecto Manuel Salgado” não podendo “passar a ser agora o sustentáculo” da sua acção.

A expansão do Hospital da Luz através da demolição de um quartel do Regimento de Sapadores de Bombeiros recentemente construído, a projectada torre no quarteirão da Portugália, a Torre de Picoas e a linha circular do Metro são alguns dos “casos polémicos” enumerados pelo partido e que colocam o PSD “em total confronto com a política determinada em Lisboa por Manuel Salgado e pelo PS”.

Para os sociais-democratas, a reeleição de Manuel Salgado à presidência da SRU constitui “um mero expediente ardiloso, cuja consumação é repreensível do ponto de vista democrático, uma vez que o passa a eximir da possibilidade do escrutínio e do confronto democrático em sede própria, isto é, na câmara e na assembleia municipal”.

De acordo com a deliberação agora aprovada, a representação do PSD na Câmara Municipal de Lisboa passará a ser exercida apenas pelo vereador João Pedro Costa.

Em declarações ao jornal Expresso, na quarta-feira, Teresa Leal Coelho afastou a hipótese de demissão, mesmo que viesse a perder a confiança política da concelhia. “Há um grupo de pessoas que vai de golpe em golpe para afastar quem foi eleito mas isso não é compatível com a democracia nem com a história do PSD”, disse.

A Câmara de Lisboa aprovou na quinta-feira, por escrutínio secreto, a reeleição de Manuel Salgado à presidência do conselho de administração da SRU, com nove votos a favor e oito contra.

O executivo da Câmara de Lisboa, liderado por Fernando Medina, é composto por oito vereadores eleitos pelo PS, quatro eleitos pelo CDS-PP, dois vereadores do PSD, dois eleitos pela CDU (coligação PCP/PEV) e um vereador do BE, partido que tem um acordo de governação com os socialistas.

Apesar de a votação ter sido secreta, CDS-PP, BE, PCP e o vereador do PSD anunciaram publicamente o seu voto contra, enquanto Teresa Leal Coelho já tinha revelado que iria votar favoravelmente.

Num comunicado divulgado nesse dia, a concelhia de Lisboa do PSD já havia anunciado que iria analisar o voto de Teresa Leal Coelho e tomar uma posição política sobre o assunto.

A saída de Manuel Salgado de vereador do Urbanismo foi anunciada no final de Julho, embora só tenha sido efectivada a 7 de Outubro. O arquitecto tinha o pelouro do Urbanismo desde 2007.