Xi recebe pessoalmente Carrie Lam em Xangai para lhe dar voto de confiança
Pela primeira vez desde que Hong Kong mergulhou numa grave crise política e social, o Presidente chinês encontrou-se pessoalmente com a chefe do governo local.
O Presidente chinês, Xi Jinping, e a chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, encontraram-se esta terça-feira pessoalmente pela primeira vez desde que estalou a crise política no território sob administração chinesa. Xi manifestou “confiança elevada” na mandatária e expressou apoio à sua gestão.
Há muito tempo que se especulava que a permanência de Carrie Lam na chefia do governo local poderia estar em risco por causa do arrastar da situação de instabilidade em Hong Kong. Desde Junho que praticamente todas as semanas há manifestações antigovernamentais, muitas das quais têm degenerado em violência. Os protestos começaram pela oposição a uma lei que permitia a extradição de suspeitos de crimes para a China, mas depressa se tornou num movimento generalizado de contestação à soberania chinesa sobre Hong Kong.
Em Xangai, onde Lam se dirigiu para participar na Exposição Internacional de Importações da China, Xi fez questão de elogiar o “trabalho duro” do governo de Hong Kong e subscreveu as decisões tomadas por Lam. “O Governo central tem muita confiança em si e apoia totalmente o seu trabalho e da equipa governamental em Hong Kong. Travar a violência e impedir o caos de acordo com a lei continua a ser a tarefa mais importante enfrentada por Hong Kong”, afirmou Xi.
O Presidente chinês manteve aquela que tem sido a linha marcada pelas declarações oficiais chinesas: a defesa dos princípios de “um país, dois sistemas”, a fórmula pela qual Hong Kong e Macau são governados, em que a soberania chinesa convive com um sistema económico capitalista e são garantidas algumas liberdades e direitos que não existem no resto da China.
“Espero que pessoas de toda a sociedade em Hong Kong possam implementar de forma abrangente e rigorosa a política ‘um país, dois sistemas’ e a Lei Básica, e possam trabalhar juntas para salvaguardar a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong”, disse Xi Jinping, citado pelos media oficiais chineses.
Aos jornalistas, Lam disse que Xi “manifestou carinho e preocupação em relação a Hong Kong” e que também expressou “apoio às várias acções” tomadas pelo seu governo.
A situação em Hong Kong também ocupou grande parte do programa dos trabalhos da quarta sessão plenária do Partido Comunista Chinês, no final de Outubro. Numa conferência de imprensa na segunda-feira, o presidente do comité responsável pela supervisão da Lei Básica, Shen Chunyao, disse que a forma mais directa de Pequim exercer a sua autoridade sobre as regiões autónomas de Macau e Hong Kong é através da indicação dos seus dirigentes principais e afirmou que estão a ser estudadas formas de “aperfeiçoar” esse processo. Não foram dados mais pormenores.
Uma das reivindicações fundamentais dos manifestantes em Hong Kong é a possibilidade de escolherem por sufrágio directo o chefe do executivo local – actualmente há uma escolha prévia feita por um comité composto quase em exclusivo por políticos pró-Pequim –, mas Lam tem recusado pôr em discussão o sistema político da cidade.
Enquanto Lam e Xi se reuniam, em Hong Kong uma manifestação para assinalar o Dia de Guy Fawkes [uma data celebrada nos países anglo-saxónicos por movimentos revolucionários] foi dispersada por canhões de água da polícia, depois de algumas pessoas terem vandalizado semáforos e um restaurante, segundo a Reuters.
No mês passado, o governo de Hong Kong impôs uma proibição à utilização de máscaras durante manifestações que remonta à era colonial.