Vox e PP sobem a pique e o futuro do Governo espanhol não descola
Sondagem do El País dá quase o dobro dos deputados ao partido nacionalista e anti-imigração, e os populares ficam mais perto dos socialistas. Nem direita nem esquerda alcançam a maioria absoluta nas eleições do próximo domingo.
Os partidos de direita em Espanha encurtaram distâncias para os socialistas e a coligação de esquerda Unidas Podemos, mas estão ainda longe de serem uma solução para o impasse governativo em que o país mergulhou há quatro anos. A apenas sete dias das quartas eleições legislativas desde Dezembro de 2015, o Vox e o Partido Popular surgem como os mais beneficiados em relação às eleições de Abril, mas o esperado trambolhão do Cidadãos indica que o cenário dos últimos meses vai arrastar-se até depois de 10 de Novembro: na melhor das hipóteses, segundo as sondagens, Espanha terá um Governo minoritário liderado pelo PSOE que pode cair a qualquer momento e provocar mais um regresso às mesas de voto.
A sondagem mais recente, publicada este domingo pelo jornal El País e conduzida pela empresa 40dB, confirma as previsões de uma grande subida do partido nacionalista e anti-imigração Vox (de 24 para 46 deputados), e de uma enorme queda dos conservadores liberais do Cidadãos (de 57 para 14).
O Vox, que ainda em Setembro não chegava aos 10% nas sondagens e ficava um pouco abaixo dos 10,3% alcançados em Abril, parece ter recuperado dessa tendência com o reacendimento da luta pela independência na Catalunha e com a exumação dos restos mortais do ditador Franco – dois temas que causam grande aversão à direita espanhola.
Por esta altura, o Vox surge nas sondagens como o terceiro maior partido espanhol, o que o deixaria apenas atrás do PSOE (121 deputados) e do PP (91).
Cidadãos perdedor
Mas os autores da sondagem aconselham cautela em relação às indicações de subida do Vox e de descida do Cidadãos. Por um lado, diz o especialista em sondagens do El País, Kiko Llaneras, em Abril o partido de Santiago Abascal ficou abaixo das previsões; e, por outro lado, é provável que as sondagens de agora sejam um pouco menos certeiras do que as de há sete meses – “o que se explica com a simples regressão à média”, diz Llaneras.
A confirmar-se a subida do Vox, esse passo de gigante será dado à custa do Cidadãos. Sete meses depois das eleições de Abril, só 39,5% dos eleitores que votaram no partido liberal dizem que vão repetir o seu voto – e 14% dizem que, desta vez, vão votar no Vox. Para além da sangria para a extrema-direita, o Cidadãos pode perder também 12% de votos para o PP.
A confirmar o seu estatuto de aglutinador de desiludidos com a direita mais tradicional, o Vox pode ir buscar 17% de votos aos populares. Em sentido contrário, apenas 4,7% dos que votaram no Vox em Abril dizem querer votar no próximo fim-de-semana no PP.
Em comparação com os 39,5% do Cidadãos, o Vox apresenta a mais alta taxa de retenção de voto em relação a Abril, nos 85,3% – 45 pontos percentuais acima do Cidadãos e cerca de 20 pontos acima do Unidas Podemos, do PP e do PSOE.
Do outro lado, à esquerda, a sondagem do El País e da 40dB parece uma fotocópia dos resultados de Abril, com o novo Más País (cinco deputados) a equilibrar as perdas do Unidas Podemos (de 42 para 31).
Em conjunto, os três partidos nacionais de esquerda – PSOE, Podemos e Más País de Íñigo Errejón, que saiu do Podemos – teriam 157 deputados, abaixo dos 165 somados pelos dois primeiros em Abril, e ainda mais abaixo dos 176 exigidos para uma maioria absoluta.
À direita, a sondagem do El País aponta para um total de 151 deputados entre PP, Vox e Cidadãos, mais quatro do que em Abril mas ainda assim muito longe da maioria absoluta.
Pelo meio ficam quatro dezenas de deputados, dispersos por partidos independentistas, à direita e à esquerda, a maioria da Catalunha e do País Basco.
“A confirmarem-se estes resultados, ficaríamos numa situação muito difícil”, diz Kiko Llaneras no El País: “A direita está longe da maioria; o PSOE e o Cidadãos também não chegam lá; e as alternativas seriam uma maioria das esquerdas com os nacionalistas, que precisaria do apoio da Esquerda Republicana da Catalunha [presidida por Oriol Junqueras, condenado a 13 anos de prisão por sedição, em Outubro]; ou um acordo entre o PSOE e o PP” – uma hipótese de grande coligação que o líder socialista, Pedro Sánchez, pôs de lado na sexta-feira.