Fiat Chrysler e PSA aceleram na fusão com Carlos Tavares ao volante
Negócio vai visa criar o quarto maior fabricante automóvel do mundo em vendas. Acções em bolsa reagem em sentido contrário - Fiat sobe, PSA desce - reflectindo os termos financeiros previstos na operação.
A Fiat Chrysler e a PSA (proprietária da Peugeot, Citroën e Opel) confirmaram, na manhã desta quinta-feira, o acordo para a sua fusão. As duas empresas anunciaram em comunicado que pretendem trocar metade das suas acções para se tornarem no quarto maior fabricante automóvel do mundo no que diz respeito às vendas, atrás da Volkswagen, Toyota e Renault-Nissan.
“O Conselho de Supervisão da Peugeot S.A e o Conselho de Direcção da Fiat Chrysler acordaram, de forma unânime, trabalhar com vista à associação total dos seus respectivos negócios, através de uma fusão 50/50. Ambos os conselhos deram às respectivas equipas a tarefa de finalizar as discussões para se chegar a um memorando de entendimento vinculativo nas próximas semanas”, lê-se no comunicado divulgado nesta quinta-feira.
Os dois conselhos de administração “partilham a convicção de que esta decisão ousada” criará um novo líder na indústria — de facto, acrescenta o comunicado, as receitas combinadas de ambas as empresas chegariam aos 170 mil milhões de euros com “um lucro operacional recorrente de mais de 11 mil milhões de euros”, de acordo com as contas feitas com base nos resultados de 2018, que excluem a Magnetti Marelli e a Faurecia (que tem fábricas em Portugal)
“A proposta será submetida ao processo de consulta dos órgãos de trabalhadores relevantes e estará sujeita às condições habituais, incluindo as aprovações do memorando de entendimento vinculativo e o acordo sobre a documentação”, finaliza o comunicado.
O presidente da Fiat John Elkann vai presidir à administração do grupo, que terá sede na Holanda. Já o actual presidente executivo da Peugeot desde 2014, Carlos Tavares, vai ser o novo líder executivo (CEO) durante os próximos cinco anos e será também membro do Conselho de Administração, que terá 11 membros, dos quais seis serão nomeados pela PSA.
“Esta união traz um valor significativo para todos os accionistas e abre um futuro risonho para a entidade que surgirá desta fusão. Estou satisfeito com o trabalho que já foi feito com o Mike [Manley, presidente executivo da Fiat] e ficarei muito feliz por trabalhar com ele para construir uma grande empresa juntos”, diz Carlos Tavares, citado no comunicado.
As duas empresas acrescentaram que esta fusão não irá levar ao encerramento de nenhuma fábrica.
A italo-americana Fiat Chrysler vai pagar aos seus accionistas um “dividendo especial” de 5500 milhões de euros e entregar-lhes as suas acções na sua unidade de fabrico de robôs, a Comau. Já a Peugeot, vai distribuir junto dos seus accionistas os 46% que detém da Faurecia, avaliada em três mil milhões de euros. A Faurecia tem cinco fábricas em Portugal, espalhadas por Palmela, São João da Madeira, Bragança, Nelas e Vouzela.
O governo Emmanuel Macron terá uma palavra decisiva no negócio, tal como teve no abandono das conversações, em Junho, entre a PSA e a Renault-Nissan. O Estado controla uma posição accionistas relevante na empresa, que também comercializa as marcas Opel e Citroen, e o ministro das Finanças já sinalizou o seu apoio ao negócio, embora alertando que irá vigiar o impacto da fusão nos postos de trabalho domésticos, bem como a estratégia de aposta da empresa na mobilidade eléctrica.
Para um analista de bolsa citado pela Reuters, os termos do negócio – ajustando o impacto do dividendo e os diferentes valores de mercado das duas empresas – significam que a PSA terá de pagar um prémio de 32% para assumir o controlo da Fiat Chrysler na estrutura prevista de divisão de capital 50%-50%.
“Os accionistas da PSA estão a assumir um risco maior de mercado que os da Fiat Chrysler”, sublinhou o mesmo especialista.
O comportamento do mercado parece confirmar esta interpretação, dado que as acções da Fiat dispararam 11% no arranque da sessão para um máximo de um ano nos 14,248 euros, enquanto as da PSA caíram 13% para um mínimo de duas semanas de 22,77 euros.