Os polvos mudam de cor quando sonham?
As imagens fazem parte de um documentário da cadeia de norte-americana Public Broadcasting Service (PBS) e mostram Heidi, um polvo fêmea, a dormir e a mudar de cor. Apesar de o fenómeno já ter sido captado em vídeo algumas vezes, o campo dos sonhos e da mudança de cores em polvos é uma área ainda pouco estudada.
Heidi, o polvo, dorme tranquilamente dentro de um grande aquário, com os seus oito tentáculos recolhidos. Enquanto o faz, a sua pele muda de cor: passa de um branco pálido, a um amarelo garrido e a um vermelho carregado, e os seus músculos parecem ter espasmos. Estará Heidi a sonhar? Estas imagens fazem parte de um documentário da cadeia de radiodifusão norte-americana Public Broadcasting Service (PBS) intitulado Octopus: Making Contact e mostram o polvo fêmea a dormir, a sonhar e a mudar de cor.
David Scheel, biólogo marinho e especialista em polvos da Universidade Alasca Pacífico, aceitou receber em sua casa Heidi e o seu aquário gigante para conseguir monitorizar as suas actividades e interacções com humanos durante algumas semanas. Foi durante esta estadia que a “soneca” do polvo fêmea foi captada.
“Se ela está a sonhar, este é um momento dramático. Quase podemos narrar as mudanças do seu corpo e o sonho: está a dormir mas a sua cor muda quando ela vê um caranguejo e é aí que a sua cor começa a mudar”, referiu o biólogo quando o polvo passou de branco a amarelo ao sonhar com um dos seus petiscos favoritos.
Quando a cor da pele de Heidi passa de amarelo a vermelho escuro, David Scheel crê que estará a sonhar que deixou o fundo do mar, um local de refúgio e de segurança para a espécie. Por fim, a pele do polvo fêmea passa a exibir uma mistura de padrões: cinzento, mostarda, preto. “Esta é uma espécie de camuflagem, como se ela tivesse acabado de dominar o caranguejo e se estivesse a preparar para o comer, não querendo que ninguém a observe ou note o que está a fazer”, afirma o especialista no documentário.
Apesar de os palpites do biólogo marinho, o campo dos sonhos e da mudança de cores em polvos é uma área ainda pouco estudada, apesar de o fenómeno já ter sido captado em vídeo algumas vezes. Então, o que podemos dizer sobre o que Heidi está a fazer? Sabemos que os polvos são cefalópodes e que uma das coisas que lhes permite ter uma inteligência tão diferentes dos outros (os bivalves, os mexilhões, as amêijoas, búzios ou caracóis) é o facto de terem um sistema nervoso muito mais desenvolvido e mais complexo.
Além de três corações, os polvos têm um cérebro bastante evoluído com zonas que cumprem funções parecidas com as dos vertebrados — uma zona mais alocada à memória, dois globos ópticos muito desenvolvidos por causa da parte da visão. Sobre as mudanças de cor da sua pele, sabemos que as utilizam para se camuflar em vários ambientes, ou porque estão a ser perseguidos por um predador ou porque são eles próprios os predadores e querem apanhar a sua presa.
“É um comportamento muito pouco comum ver a cor dela a mudar assim, vemos todos estes padrões de cores a piscar um após o outro. Normalmente não vemos isto quando um animal está a dormir, por isso é realmente fascinante”, referiu ainda David Scheel na narração do documentário.
Segundo revela a Science Alert, enquanto os polvos descansam, algo activa as suas células que contêm pigmentos, tornando-as activas. Como resultado, a sua pele alterna entre cores e padrões enquanto dormem, como se estivessem a reagir a algo que somente eles podem sentir.
Nicola Clayton, psicóloga da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, diz ao jornal The New York Times que "é apenas uma suposição dizer que o polvo está a sonhar sem mais dados” que o provem. O acto de sonhar nos humanos acontece principalmente em fases de sono dito REM (sono acompanhado de movimentos oculares rápidos, ou rapid eye movement em inglês). “Poderíamos observar algo semelhante nos polvos?” Clayton tem as suas dúvidas, mas diz que um humano também pode ficar vermelho durante o sono porque está com calor.
Embora o sono REM não tenha sido registado em polvos, o fenómeno foi observado noutro cefalópode. Um estudo de 2012 publicado na revista científica PLOS ONE descobriu que o choco (Sepia officinalis) "exibe um estado de repouso com movimentos oculares rápidos, alterações na coloração do corpo e espasmos nos braços”, factores que podem ser associados a fases do sono REM.