Livros, teatro e histórias de vida viajaram numa carruagem da CP

O Dia Nacional da Biblioteca Escolar e o aniversário da CP foram celebrados numa viagem de comboio com alunos de São João do Estoril.

Foto
Estação do Cais do Sodré Fabio Augusto

Eram precisamente 12h24 quando o comboio da CP (Comboios de Portugal) partiu da estação de Cascais com destino ao Cais do Sodré. Na última carruagem, vários jovens distribuíam marcadores de livros e panfletos sobre leitura aos passageiros. O motivo? A 28 de Outubro, a Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) assinala o Dia Nacional da Biblioteca Escolar.

Com o apoio da CP, que no mesmo dia comemora 163 anos, a RBE organizou um conjunto de iniciativas no âmbito da mobilidade sustentável com o objectivo de “suscitar nas crianças e jovens a inquietação, a tomada de consciência e o compromisso em relação a si próprios, à comunidade e ao planeta”.

Liliana Silva e Helena Skapinakis, da RBE, conduzem o PÚBLICO até à carruagem onde alunos da Escola Secundária de São João do Estoril participam nas actividades. Sentados no chão numa das pontas da carruagem, os jovens ouvem a historiadora Ana Sousa, que conta a história da empresa de transporte ferroviário. O corredor do comboio é animado pelo Grupo de Teatro do Oprimido de Lisboa, coordenado por Anabela Rodrigues. Os alunos participam com entusiasmo na interpretação de pequenas peças, que os fazem reflectir sobre diferentes questões que podem surgir no dia-a-dia, como o bullying ou a importância da dedicação aos estudos. O objectivo é passar a mensagem de que é possível ultrapassar os obstáculos, por mais difíceis que pareçam ser.

Exemplos dessa superação são Jorge Pina e João Semedo, mais conhecido por Johnson. Ambos contam aos alunos o passado complicado que viveram, mas também como conseguiram alcançar o sucesso. Johnson cresceu na Cova da Moura, foi toxicodependente e esteve preso. Hoje com 47 anos, mudou de vida e criou, em 2014, a Academia do Johnson. O objectivo da organização é acompanhar crianças e jovens de meios sociais frágeis, através de actividades como apoio ao estudo, prática de futsal ou participação em oficinas de expressão artística. Johnson procurou cativar os alunos para serem voluntários. “São a peça mais fundamental na associação”, garantiu.

Os jovens sentados nos bancos do comboio também ouvem com atenção a história de Jorge Pina. Foi campeão nacional de boxe e em 2004 ficou cego, numa altura em que se preparava para disputar o campeonato mundial. “Costumo dizer que antes é que era cego e agora é que vejo” porque “perdi a visão mas comecei a ver mais do que via”, explica. Por isso, Jorge diz que não sabe “se foi infelicidade ou sorte perder grande parte da visão”. Deixou o boxe e dedicou-se à maratona, modalidade em que conquistou a medalha de bronze nos Jogos Paralímpicos de 2016. “Escrevi a minha história e vocês também podem escrever a vossa, só depende de vocês realizarem os vossos sonhos.” Jorge gosta “de servir de inspiração e de mentor” para os mais novos e é isso que faz na sua associação, onde trabalha com jovens em risco.

Antes de chegar ao destino, há ainda tempo para a organização distribuir pelos passageiros o livro O Recruta, de Robert Muchamore. Para trás fica uma carruagem pintada com todas as cores, pelas histórias partilhadas e por estar decorada em homenagem ao artista norte-americano Keith Haring, um dos símbolos da pop art.

Texto editado por Sónia Sapage

Sugerir correcção
Comentar