PSD-Açores à espera de José Manuel Bolieiro
Autarca de Ponta Delgada e vice-presidente de Rui Rio, é o nome que reúne mais consensos no interior de um partido, que não ganha eleições nos Açores desde 1996.
Desde Dezembro de 1995, quando João Bosco Mota Amaral deixou a liderança do PSD-Açores para ocupar o lugar de deputado na Assembleia da República, que os sociais-democratas açorianos têm sido uma máquina de trucidar lideranças.
O sucessor de Mota Amaral, que deixou o partido no Governo antes de rumar a São Bento, foi Álvaro Dâmaso. Aguentou um ano no cargo. Carlos Costa Neves manteve-se por um biénio. Manuel Arruda foi embora um ano depois de ter chegado. Vítor Cruz esteve lá cinco, entre 2000 e 2005, antes de Costa Neves regressar para mais quatro anos. Seguiu-se Berta Cabral (2008-2012) e Duarte Freitas, um recordista na longevidade. Agarrou no partido em 2012, após nova maioria absoluta do PS açoriano, a primeira com Vasco Cordeiro, e manteve-se até 2016.
Alexandre Gaudêncio chegou em Setembro de 2018 e demitiu-se na semana passada. O autarca da Ribeira Grande, em São Miguel, câmara que conquistou em 2013 com maioria absoluta, repetindo-a quatro ano depois, não teve vida fácil. Primeiro, incompatibilizou-se com a direcção nacional do partido, depois de Rui Rio recusar colocar Mota Amaral num lugar elegível na lista para o Parlamento Europeu. Depois, viu a Polícia Judiciária entrar pelos paços do concelho, numa investigação a suspeitas de crimes de peculato, prevaricação, abuso de poder e falsificação de documentos.
De “consciência tranquila” mas fragilizado pela investigação policial, Gaudêncio pediu eleições antecipadas por entender que o partido precisa de uma “clarificação interna”. Só assim, defendeu na hora da saída, será capaz de apresentar um projecto político alternativo ao PS, que governa o arquipélago ininterruptamente desde 1996.
Nas semanas que antecederam o conselho regional deste fim-de-semana, o autarca da Ribeira Grande foi alimentando o tabu sobre uma eventual recandidatura, mas no sábado, quando os conselheiros regionais do PSD se reuniram na ilha Terceira, ficou claro que o futuro imediato do partido não passa por ele.
Passa sim por dois nomes: José Manuel Bolieiro e Pedro Nascimento Cabral. O primeiro, que lidera desde 2013 a Câmara Municipal de Ponta Delgada, é um dos vice-presidentes de Rui Rio e é quem reúne mais consenso.
Deputado com uma larga experiência parlamentar, tem no currículo duas importantes vitórias (2013 contra José Contente e 2017 frente a Vítor Fraga, ambos socialistas) numa das autarquias mais representativas da região autónoma. Ao contrário de Nascimento Cabral, que enfrentou Gaudêncio nas internas do ano passado, tem-se mantido acima das várias sensibilidades do PSD açoriano. Uma vantagem num partido que procura reconstruir-se, mais uma vez, depois de um ciclo eleitoral em que o PS voltou a ser dominante.
Não é por isso de estranhar que, na segunda-feira após o conselho regional, duas comissões políticas locais (ilha Graciosa e ilha das Flores) tenham manifestado apoio a Bolieiro. “A candidatura de José Manuel Bolieiro será recebida por esta comissão política de ilha com confiança na sua capacidade de unir e liderar o PSD-Açores”, resume uma nota do PSD das Flores, enviada à agência Lusa. Na Graciosa, existe também “vontade” em “desafiar” Bolieiro, para “encabeçar com a confiança e determinação que lhe é reconhecida um projecto ganhador que a maioria dos açorianos ambiciona para 2020”.
Logo no sábado, no final do encontro de sociais-democratas açorianos, Bolieiro foi questionado pelos jornalistas sobre a disponibilidade para encabeçar um projecto de liderança, mas optou por não clarificar. “A seu tempo”, respondeu, remetendo a decisão para os próximos dias.
As eleições internas foram marcadas para 14 de Dezembro, com o congresso regional a ser agendado para os dias 17, 18 e 19 de Janeiro.