Hígia tem tudo para ser o próximo planeta-anão do nosso sistema solar

Cientistas vão propor à União Astronómica Internacional que o asteróide Hígia seja classificado como um planeta-anão.

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Imagem do asteróide Hígia obtida com o instrumento SPHERE do Very Large Telescope ESO/Pierre Vernazza et al./MISTRAL algorithm (ONERA/CNRS)

A edição desta semana da revista científica Nature Astronomy traz-nos novidades dos lados da cintura de asteróides, entre os planetas Marte e Júpiter. Através de novas observações no telescópio Very Large Telescope (VLT), percebeu-se que o asteróide Hígia tem todas as condições para ser um planeta-anão. Se tal acontecer, será o planeta-anão mais pequeno do nosso sistema solar.

Detectado no século XIX, Hígia tem cerca de 430 quilómetros de diâmetro e é o quarto maior asteróide da cintura de asteróides, logo a seguir de Ceres, Vesta e Palas.

Agora, através de observações do instrumento SPHERE – que serve para detectar e estudar exoplanetas – instalado no VLT (que o Observatório Europeu do Sul, ou ESO, tem no Chile), analisou-se com uma resolução pormenorizada a superfície, forma e tamanho deste asteróide. Desta forma, estudaram-se melhor os requisitos que o podem tornar num planeta-anão.

“Qualquer pequeno corpo do sistema solar satisfaz imediatamente três das quatro características requeridas para um objecto ser considerado um planeta-anão”, indica ao PÚBLICO Pierre Vernazza, do Laboratório de Astrofísica de Marselha (em França) e um dos autores do artigo. Já se sabia que Hígia orbitava em torno do Sol, que não era satélite de nenhum planeta e que não “limpou” o espaço em torno da sua órbita.

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Da esquerda para a direita, os asteróides da cintura de asteróides: Hígia, Vesta e Ceres ESO/Pierre Vernazza et al./MISTRAL algorithm (ONERA/CNRS)

A equipa de Pierre Vernazza percebeu que Hígia também cumpre o quarto requisito: tem massa suficiente para que a sua gravidade lhe permita ter uma forma mais ou menos esférica. “Hígia é esférico como o planeta-anão Ceres. Mesmo com a sua pequena dimensão, é interessante que Hígia satisfaça a definição de planeta-anão”, realça o cientista.

“Graças a estas imagens novas, Hígia pode ser classificado como planeta-anão, até agora o mais pequeno do sistema solar [por enquanto, o planeta-anão mais pequeno é Ceres com cerca de 950 quilómetros de diâmetro]”, adianta ainda num comunicado do ESO. Por isso, Pierre Vernazza e a sua equipa vão propor à União Astronómica Internacional (IAU, na sigla em inglês) a classificação deste asteróide como um planeta-anão. Actualmente, há três planetas-anões bem aceites no nosso sistema solar e reconhecidos pela IAU: Plutão, Ceres e Éris (situado nos confins do sistema solar). Regularmente, Haumea (que está na cintura de Kuiper, uma zona mais periférica do nosso sistema solar) e Makemake (que também se situa para lá de Plutão) são considerados planetas-anões. Todos eles são maiores do que Hígia.

Mas ainda se desmistificaram outras informações sobre Hígia, nome da deusa da saúde na mitologia grega. Concluiu-se que o período de rotação de Hígia é metade daquele que se pensava: cerca de 14 horas.

Como se observou cerca de 95% da superfície de Hígia, também se esperava encontrar uma grande cratera de impacto no asteróide – pois faz parte de uma família de asteróides com 7000 membros vindos do mesmo corpo celeste –, mas não foi o caso. “Nenhuma das duas crateras [encontradas] poderia ter sido causada pelo impacto que deu origem à família de asteróides de Hígia”, diz no comunicado Miroslav Brož, do Instituto Astronómico da Universidade Carolina (na República Checa) e um dos autores do artigo. “As crateras observadas são muito pequenas.”

O que aconteceu então? A partir de simulações numéricas, a equipa sugere que a forma esférica de Hígia e a sua família de asteróides terão resultado de uma colisão frontal com um projéctil entre os 75 e os 150 quilómetros de diâmetro. Provavelmente ocorrido há 2000 milhões de anos, esse impacto terá despedaçado o corpo progenitor e quando os vários pedaços se voltaram a juntar deram uma forma esférica a Hígia.  

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