Venda da Brisa pode render mais de 2,2 mil milhões

Negócio deve ultrapassar a fasquia dos dois mil milhões de euros e permitirá a Vasco de Mello “limpar” as dívidas do grupo. Fundos de pensões, fundos de infra-estruturas, e operadores de autoestradas serão os naturais interessados num activo que tem revelado taxas de rentabilidade atractivas.

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Salvador de Mello, presidente da José de Mello Saúde e Vasco de Mello, líder do grupo José de Mello e da Brisa Rui Gaudencio

O acordo foi celebrado entre os dois accionistas que detêm a Brisa, o Fundo Arcus e o grupo José de Mello e comunicado esta semana numa reunião de directores: os dois accionistas vão colocar no mercado, cada um, 40% dos direitos de voto na Brisa. O fundo Arcus vai sair da estrutura mas o grupo liderado por Vasco de Mello, apesar de abdicar do controlo da empresa, tenciona manter-se como accionista de referência, ficando com uma participação de 20% dos direitos de voto da empresa.

Os investidores que estarão interessados neste activo – e que já por ele manifestaram interesse, confirmou o PÚBLICO junto duas fontes, em vários contactos – são fundos de pensão e fundos de infra-estruturas, mas também haverá interesse de actuais operadores de auto estradas em mercados internacionais. 

Ao que o PÚBLICO apurou, a decisão de vender o capital da Brisa em dois blocos accionistas tem a ver com a intenção de potenciar o valor da venda, recebendo um maior número de propostas – uma vez que a venda num único bloco (apesar de haver potenciais interessados no negócio) não deixará de implicar um investimento elevado, acima dos 2,2 mil milhões de euros, segundo os cálculos mais conservadores. Algumas fontes de mercado ouvidas pelo PÚBLICO valorizam o grupo Brisa em cerca de três mil milhões de euros.

A notícia da intenção de vender 80% do capital da Brisa foi tornada pública esta sexta-feira, com fonte oficial da José de Mello a adiantar ao Jornal de Negócios que a entrada de novos accionistas no capital da concessionária permitirá à empresa estabelecer novas parcerias e reforçar “o seu papel de plataforma de referência na gestão de infra-estruturas rodoviárias e mobilidade”. Mas, apesar de já não ser o principal racional do grupo, depois de todas as alienações que concretizou nos últimos anos, é incontornável que também permitirá reduzir o endividamento da sociedade, que em Junho tinha uma dívida financeira líquida de 406,5 milhões.

Questionada pelo PÚBLICO, fonte da Brisa afirmou que a empresa está tranquila com as mudanças que se adivinham na estrutura accionista, acreditando que os novos donos da empresa permitirão que ela permaneça “firme na sua estratégia”. Sabendo-se que a principal actividade da Brisa, e que está assente na Brisa Concessões Rodoviárias – tem por base um negócio regulado, não se adivinham mudanças de relevo. Mas também é um facto que o maior desafio que enfrentará a nova estrutura accionista da empresa está relacionado com o processo de renegociação dos contratos, que foi anunciado ainda quando Pedro Marques era ministro do Planeamento e das Infraestruturas, mas que ainda não arrancou a sério.

O objectivo deste negócio é encontrar um ou dois accionistas, de preferência, sendo certo que se os investidores tiverem apenas interesses financeiros (como, por exemplo, os fundos de pensões) deixarão para o grupo José de Mello uma maior margem de influência na gestão. No caso de serem investidores conhecedores nos negócios de infra-estruturas, nomeadamente operadores internacionais que já estejam no mercado, a manutenção da José de Mello no capital accionista poderá ser considerada a mais valia que é aportada pela existência de um parceiro local que conheça o mercado. Ao manter os 20% dos direitos de voto (que consegue garantir por causa das muitas acções próprias que mantém no grupo), a José de Mello quer, por todas as vias, continuar a ter voz activa no futuro do empresa.

O Grupo José de Mello tem 52,8% do capital da Brisa, 30% directamente e 55% através da Tagus Holding. A Arcus Infrastructure Partners detém directamente 19,09% do capital e ainda 45% da Tagus. O acordo feito entre ambos os accionistas permite à Arcus sair completamente do capital da empresa, enquanto a José de Mello assegura a sua continuidade, com 20% dos direitos de voto. 

Recorde-se que já no passado mês de Junho, a Bloomberg anunciava a intenção da Arcus de alienar, pelo menos, parte da sua participação. E o Jornal de Negócios revela, esta sexta-feira, que os bancos já iniciaram os contactos com potenciais investidores e que a operação deverá estar concluída até ao final do primeiro semestre de 2020. O grupo José de Mello está a trabalhar com o Rothschild e com o Caixa BI, enquanto a Arcus é assessorada pelo Morgan Stanley e o Millennium BCP Investment Banking.

A Brisa Concessão Rodoviária (BCR) é a principal concessão do grupo Brisa e abrange a “espinha dorsal” do sistema rodoviário português num total de 12 auto-estradas, incluindo a A1. Mas tem ainda mais cinco concessões: Atlântico (A8 e A15), Litoral Oeste (ligação A1-A8), Baixo Tejo (Setúbal), Brisal (A17) e Douro Litoral (A32). Estas duas últimas concessões motivaram uma disputa com os hedge funds credores que quiserem tomar conta do capital. O acordo entre as partes foi anunciado em Agosto. A Brisa registou em 2018 um lucro de 158 milhões de euros, menos 31,5% que em 2017, ano em que o grupo vendeu a concessão Northwest Parkway.

Nos últimos anos tem sido privilegiada a política de remuneração e a distribuição de dividendos. Desde a OPA, lançada em 2012, a empresa distribuiu, em média, 186 milhões de euros por ano em dividendos aos accionistas que agora querem vender a empresa.

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