Portugueses consideram positiva a entrada de imigrantes no mercado de trabalho
O European Social Survey foi apresentado esta quinta-feira no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.
Os portugueses são tolerantes com os imigrantes e os refugiados, mas sentem alguma desconfiança em relação à situação destes últimos. As pessoas com deficiência têm menos interesse pela política e apresentam níveis negativos de confiança nas instituições e de satisfação com o estado actual do país. Portugal tem um dos maiores índices de pobreza energética da União Europeia e vai ser cada vez mais afectado pelas alterações climáticas. Estas são algumas conclusões a retirar de análises feitas a partir de dados do European Social Survey, apresentado esta quinta-feira no ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas).
Portugueses tolerantes com imigrantes e refugiados
Em 2016, 9% da população residente em França era imigrante, 10% dos quais nascidos em Portugal. Dos 15% de imigrantes na população residente no Reino Unido, 1,4% nasceram em Portugal. Por cá, também em 2016, 8% da população era imigrante. O estudo de Filipa Pinho, Pedro Góis e José Carlos Marques analisa as opiniões sobre a imigração e refugiados numa perspectiva comparada entre Portugal, França e Reino Unido.
Cerca de 60% dos portugueses consideram que Portugal deve deixar entrar algumas pessoas da mesma raça ou grupo étnico da maioria do país. A mesma percentagem defende que se deve deixar entrar algumas pessoas de raça ou grupo étnico diferente do da maioria do país, ao mesmo tempo que cerca de 20% são da opinião de que Portugal deve deixar vir poucas dessas pessoas. Quase 60% dos portugueses defendem que Portugal deve deixar entrar no país algumas pessoas dos países mais pobres de fora da Europa.
O índice de intolerância à imigração em Portugal diminuiu de 2008 a 2016, com excepção de 2012, ano em que aumentou ligeiramente para logo em 2014 voltar para um nível inferior ao de 2010. Os portugueses consideram que o impacto na economia da entrada de imigrantes no mercado de trabalho é positivo, num valor próximo de seis numa escala de dez. O mesmo se verifica nas questões culturais: os portugueses acham que estas pessoas enriquecem a cultura do país, com um valor que supera os seis em dez. A opinião divide-se quando questionados se o país se tornou um lugar melhor ou pior para se viver com a chegada de pessoas de outros países: o valor situa-se ligeiramente acima dos cinco em dez em 2016.
Quanto aos refugiados, a maioria dos inquiridos concorda que o Governo deve ser compreensivo na avaliação dos pedidos deste estatuto. Os portugueses têm mais dúvidas sobre se a maioria daqueles que requerem o estatuto de refugiado são realmente perseguidos nos seus países: cerca de 20% discordam (de que se trata, de facto, de pessoas perseguidas), cerca de 30% não concordam nem discordam e aproximadamente 30% concordam. A maioria concorda que os refugiados cujos pedidos foram autorizados devem ter o direito de mandar vir os seus familiares próximos.
Comparando com França e Reino Unido, Portugal não tem opiniões muito diferentes sobre a imigração. Nenhum dos países em análise defende a entrada de muitos imigrantes, especialmente se forem de um grupo étnico diferente do da maioria ou de países de fora da Europa. Os portugueses compreendem mais os pedidos de estatuto de refugiado e o reagrupamento familiar do que os britânicos e os franceses, mas são mais desconfiados quanto à situação real dos refugiados.
Portugueses com deficiência têm menos interesse pela política
As pessoas com deficiência na Europa do Sul (Portugal, Espanha, França e Itália) apresentam níveis mais baixos de “bem-estar subjectivo” do que as pessoas sem deficiência e Portugal é o país que apresenta maiores disparidades. O “bem-estar subjectivo” está relacionado com o grau de satisfação com a vida em geral e com o grau de felicidade tendo em conta todos os aspectos da vida, de acordo com o estudo de Paula Campos Pinto, Patrícia Neca e Teresa Janela Pinto.
As pessoas com deficiência severa em Portugal demonstram pouco entusiasmo com o efeito positivo das políticas sociais no país, provavelmente porque se confrontam mais com as limitações dessas políticas. O mesmo grupo revela níveis negativos de confiança nas instituições e de satisfação com o estado actual do país. As pessoas com moderada e severa deficiência apresentam o mesmo nível negativo de interesse pela política, menor do que o das pessoas sem deficiência.
Segundo a investigação, estes resultados podem reflectir o nível mais baixo de protecção social existente para as pessoas com deficiência comparando com outros grupos, como por exemplo os idosos.
Pobreza energética e alterações climáticas entre as preocupações
Portugal já é e será cada vez mais afectado pelas alterações climáticas, diz o estudo “Clima e energia: das percepções às políticas”, de Luísa Schmidt e Ana Horta. No sul da Europa, as temperaturas vão aumentar, a precipitação vai diminuir, a frequência de secas vai aumentar e o nível do mar subir. Em Portugal, a média de 1998 a 2017 de mortes directamente relacionadas com eventos climáticos por 100.000 habitantes é de 1,407, o quarto valor mais elevado na União Europeia.
Na área das energias renováveis, Portugal é um dos países com menor número de painéis de água quente solar e de produção fotovoltaica descentralizada. Apesar do impacto positivo destas energias no país, tal não se reflecte em benefícios concretos para as pessoas comuns. Portugal tem um dos maiores índices de pobreza energética da União Europeia devido a má construção, falta de aquecimento e arrefecimento eficientes, elevados preços da energia e baixos rendimentos.
Relativamente aos transportes, os principais problemas do país prendem-se com a excessiva dependência do transporte rodoviário individual e com uma das taxas mais baixas de utilização de transportes públicos.