Assis diz que novo Governo foi criado à imagem de Costa e só está preparado para dois anos
O antigo eurodeputado socialista critica orgânica do novo Governo, diz não reconhecer qualidades a Pedro Siza Vieira e Mariana Vieira da Silva para serem ministros de Estado e afirma que a “geringonça” foi apenas uma forma de Costa superar a derrota eleitoral do PS.
Um executivo à imagem e semelhança de António Costa e feito para durar apenas dois anos. É esta a leitura que o ex-eurodeputado do Partido Socialista (PS) Francisco Assis faz do Governo apresentado esta terça-feira pelo primeiro-ministro indigitado. Para Francisco Assis, a orgânica do executivo de António Costa mostra a intenção de “combate político permanente” durante dois anos e aponta “momentos importantíssimos”: a presidência portuguesa da União Europeia e as eleições autárquicas. Mas deixa outros recados: a inexistência de um acordo governativo como o de 2015 mostra que para António Costa a “geringonça” foi uma ferramenta para superar “uma derrota eleitoral em termos relativos”.
No programa Casa Comum da Renascença, o socialista afirmou que Costa “formou um Governo a pensar neste dois anos”. Usando a mesma expressão utilizada por António Costa esta terça-feira à saída do encontro com o Presidente da República, Assis reconheceu que Costa “valorizou muito a continuidade, a experiência” dos ministros reconduzidos. Mas atira farpas: a continuidade foi também para “ministros que estão muito desgastados junto da opinião pública”.
Para Assis, os nomes escolhidos por António Costa criam um Governo à sua imagem. “Quando se diz que este é um Governo ‘muito do Partido Socialista’, tenho alguma discordância. Este é um Governo ‘muito António Costa,’ com pessoas muito próximas do primeiro-ministro”, assinala.
Depois parte para exemplos, criticando a escolha de Pedro Siza Vieira para ministro da Economia, “um número dois que nunca teve qualquer vida pública, no sentido de intervenção política”. E questiona ainda a atribuição do estatuto de ministra de Estado de Mariana Vieira da Silva, que fica com a pasta da Presidência. Para Francisco Assis, é “estranho” que Mariana Vieira da Silva assuma este estatuto, tendo em conta que “não tem um percurso político que se lhe conheça, um pensamento, uma linha de orientação, uma causa, uma luta, uma disputa, qualquer coisa”. Para o socialista, Mariana Vieira da Silva, filha do agora ex-ministro do Trabalho, José António Vieira da Silva, “é uma pessoa que cresce ali na redoma do Governo e de repente é ministra da Estado”.
"A ‘geringonça’ serviu para superar uma derrota eleitoral"
Sobre a “geringonça”, a cuja constituição se opôs em 2015, Francisco Assis lembra que foi algo “apresentado ao país à Europa e ao Mundo como uma coisa extraordinária que configurava uma ruptura fundamental na vida política portuguesa”. Hoje, Francisco Assis conclui que “foi objectivamente um expediente que a direcção do PS recorreu há quatro anos para superar uma derrota eleitoral em termos relativos e para garantir um apoio parlamentar”. “Há uma tentativa de alguns sectores do PS de dizer que há uma outra ‘geringonça’ e até falam da ‘esquerda plural’. Acho que isso é a pior forma de abordar a questão”, considera o ex-eurodeputado e pede que seja dita “a inteira verdade ao país”.
“A ‘geringonça’ acabou e entrámos numa nova fase. Pessoalmente estou satisfeito, porque sempre achei que, na actual fase da vida política portuguesa, a ‘geringonça’ tinha mais aspectos positivos que negativos”, sublinhou.
Defendendo que o PS tem de ter capacidade para falar para a esquerda e para a direita, Assis critica a escolha de Costa para ter “aliados preferenciais” e de continuar a “demonizar a direita” em termos que considera “totalmente impróprios”.