Já as vimos vestidas de bibliotecas, de pequenas obras de arte ou até de aquários, mas desta feita duas cabines telefónicas de Nantes, em França, transformaram-se em locais onde podes escutar alguém a ler uma obra literária de renome. Mas este "alguém” não é qualquer um: podes ouvir Sylvain Tesson ou Patrick Modiano a narrar uma das suas obras ou um dos livros de George Orwell e Marguerite Yourcenar.
Segundo a rádio InterFrance, as cabines telefónicas de Nantes foram desaparecendo gradualmente das calçadas da cidade. Além disso, os responsáveis pela Coiffard, uma livraria centenária da cidade, sentiam que existia uma relação de distância entre a literatura (e a própria livraria) e a população. Para celebrar o seu centenário, decidiram importar duas cabines telefónicas do Reino Unido, que foram posteriormente restauradas e pintadas.
Para o projecto estar completo só faltava reunir as obras que iam ser escutadas e entrar em contacto com algures autores. Para aceder a um determinado livro da lista de cerca de 50 autores é preciso marcar os números correspondentes à data de nascimento do escritor em questão. O jornalista da rádio InterFance, por exemplo, marcou 09.12.1957 e, do outro lado da linha, ouviu Emmanuel Carrère a ler Other Lives But Mine.
Uma das estruturas está actualmente na Rue de la Fosse, no centro da cidade, e a outra na Escola de Arquitectura de Nantes. A segunda vai ser realocada para o salão principal do Hospital Universitário de Nantes para ser utilizada por pacientes, visitantes e funcionários da instituição.
Esta não é a primeira vez que se utilizam cabines telefónicas (que já não têm telefones) para promover hábitos de leitura. Em 2013, uma antiga cabine telefónica “à inglesa” foi transformada na mais pequena biblioteca de Portugal e instalada em Barcelinhos, Barcelos, nas margens do rio Cávado, para servir residentes, turistas e peregrinos de Santiago. No ano seguinte, uma iniciativa do Movimento Comerciantes Avenida Guerra Junqueiro, Praça de Londres e Avenida de Roma promoveu a leitura e os laços comunitários através do reaproveitamento de uma velha cabine telefónica como minibiblioteca self-service na Praça de Londres, em Lisboa.