Como é que o parasita da malária saltou dos gorilas para os humanos?
Há 50 mil anos, o principal parasita que causa a malária nos seres humanos recebeu de uma espécie de parasita que infecta os gorilas um conjunto de genes. Um desses genes conferiu ao parasita a capacidade de produzir uma proteína que se une aos glóbulos vermelhos do ser humano.
Cientistas do Instituto Wellcome Sanger (no Reino Unido) e da Universidade de Montpelier (em França) estudaram o genoma de sete espécies de parasitas da malária e descobriram um gene que permitiu ao Plasmodium falciparum infectar os seres humanos. Esse gene integra uma sequência de ADN que foi transmitida ao Plasmodium falciparum pelo parasita que infecta os gorilas.
O gene produz uma proteína chamada RH5 que se une aos receptores dos glóbulos vermelhos dos seres humanos. O estudo publicado na revista PLOS Biology aprofunda o conhecimento sobre esta zoonose – quando um agente patogénico que infecta os animais adquire mudanças genéticas que lhe permite infectar os seres humanos. A mudança genética da espécie Plasmodium falciparum, que acrescentou ao antepassado deste parasita o gene que permite produzir a proteína RH5, ocorreu há cerca de 50 mil anos.
“O facto de esta proteína ancestral ser capaz de se unir a receptores nos glóbulos vermelhos tanto dos humanos como dos gorilas explica como é que o Plasmodium falciparum evoluiu para infectar os humanos”, diz Francis Galaway, o primeiro autor do estudo, citado em comunicado do Instituo Wellcome Sanger.
As sete espécies do parasita da malária agora investigadas surgiram em primatas africanos. Actualmente, três dessas espécies só infectam chimpanzés e as outras três contagiam gorilas. Entre essas sete espécies, o Plasmodium falciparum, que sofreu ao longo do tempo novas mutações genéticas, passou a infectar exclusivamente os seres humanos.
A malaria é transmitida através de mosquitos e infecta cerca de 216 milhões de pessoas por ano em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença causa a morte a mais de 400 mil pessoas anualmente, a maioria crianças com menos de cinco anos nas zonas mais pobres de África.
“Na história da humanidade, estima-se que a malária tenha causado mais mortes do que qualquer outra doença”, afirma Gavin Wright, um dos autores da investigação. “Por isso, é tão importante quanto fascinante perceber a via molecular que permitiu que este parasita mortífero infectasse os humanos.”