Buscas a presidente do PSL aprofundam crise do partido com Bolsonaro
Presidente brasileiro está num braço-de-ferro com Luciano Bivar, líder do seu partido, pelo controlo do financiamento partidário.
O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, está em guerra aberta com o Partido Social Liberal (PSL), o oitavo pelo qual passou na sua carreira política e aquele com o qual conseguiu chegar à presidência. O conflito arrasta-se há semanas, mas não há uma solução óbvia. Pelo caminho, a política brasileira vai ficando ainda mais intrincada.
Que as coisas entre o Presidente e o partido que o acolheu a poucos meses das eleições do ano passado não estavam bem já se sabia. Mas tudo se precipitou quando, há uma semana, Bolsonaro foi filmado a falar com um apoiante em que lhe dizia para esquecer o PSL. Um jovem tinha-lhe pedido para posar para um vídeo em que se apresentou como pré-candidato a vereador no Recife pelo PSL, citando Bolsonaro e Luciano Bivar, o presidente do partido.
Bolsonaro afasta-se e pede-lhe para apagar o vídeo: “Cara, não divulga isso não. Ele [Bivar] está queimado para caramba lá”, afirmou. O momento rapidamente correu as redes sociais e foi interpretado como a confirmação de que Bolsonaro estava a colocar um ponto final à sua ligação com o partido. Horas depois, quando a crise dominava a actualidade política brasileira, Bolsonaro veio dizer que não estava a planear sair do PSL.
Apesar do recuo, as movimentações no interior do PSL não deixam apagar a sombra de uma crise em fermentação. A bancada do partido no Congresso está hoje dividida entre um grupo de deputados fiéis a Bolsonaro e outro próximo de Bivar.
No centro do braço-de-ferro está o controlo sobre os mais de cem milhões de reais (21,8 milhões de euros) que o PSL tem a receber do fundo partidário pelos bons resultados que obteve nas eleições do ano passado. À boleia da onda conservadora que varreu o Congresso, o partido elegeu 53 deputados – é a segunda maior bancada – três senadores e três governadores, o que valeu à formação uma quantia impensável alguns meses antes.
Com a aproximação das eleições municipais, daqui a um ano, os recursos do PSL passaram a ser um tema político e alvo de cobiça. O núcleo próximo de Bolsonaro, convicto de que foi a popularidade do candidato presidencial que permitiu o resultado histórico dos candidatos do partido, quer controlar a selecção dos nomes que vão concorrer aos municípios e, mais importante, o acesso às finanças.
Entre os cenários avaliados pelos “bolsonaristas” está até a criação de um novo partido, idealizado pelo filho mais novo do Presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, que até já teria sido baptizado de Conservadores.
Outra das hipóteses estudadas por Bolsonaro e pelo seu círculo é a saída para outro partido, uma prática comum na política brasileira onde a fidelidade partidária é um bem escasso. No entanto, a transferência para outra formação política iria provocar a perda de mandato dos deputados – uma regra que não se aplica no caso do Presidente, governadores e senadores.
No entanto, na montanha russa constante em que a política brasileira parece estar mergulhada nos últimos anos, a imprevisibilidade é regra. Esta terça-feira, Bivar, o homem que estava “queimado para caramba”, segundo Bolsonaro, foi alvo de mandados de busca e apreensão em moradas suas em Pernambuco, no âmbito da investigação a suspeitas de desvio de financiamento eleitoral pelo seu partido durante as eleições do ano passado. As investigações às chamadas “candidaturas laranja” – candidatas, normalmente mulheres para preencher a quota, cuja única função é encaminhar financiamento público para outros candidatos – atinge também o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, do PSL.
Para os aliados de Bolsonaro, o timing da operação da Polícia Federal é perfeito e pode abrir a oportunidade para que os deputados que desejam sair do PSL justifiquem a decisão alegando falta de transparência no partido, assegurando a manutenção do mandato, escreve a Folha de São Paulo.
Até que a disputa no partido presidencial seja sanada, os sinais de mal-estar vão-se acumulando. Há meses que o grupo “bolsonarista” tem tentado forçar a realização de uma auditoria às contas do PSL e, em reposta, Bivar pediu esta semana uma auditoria à campanha de Bolsonaro.
O directório do PSL quer mostrar que não está de braços cruzados à espera que o estatuto de grande partido lhe seja retirado depois do annus mirabilis de 2018. Esta terça-feira, a direcção reuniu-se para tomar uma decisão sobre a expulsão de quatro deputados do partido.