Novo núncio apostólico em Portugal garante que nunca encobriu casos de abusos no Chile

As declarações de Ivo Scapolo foram feitas em entrevista ao jornal chileno “El Mercurio”.

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Fachada do prédio da Nunciatura Apostólica, em Lisboa Nuno Oliveira

O novo núncio apostólico em Portugal, Ivo Scapolo, que exercia as mesmas funções no Chile, garante que nunca encobriu casos de abuso sexual, que recebeu várias vítimas naquele país e que fez “o que era possível”.

A poucos dias de deixar o Chile para assumir o cargo de representante diplomático do Vaticano em Portugal, Ivo Scapolo deu uma entrevista ao jornal chileno “El Mercurio” agora divulgada pela agência Ecclesia.

“Digo simplesmente que não é verdade. Em consciência, posso afirmar que cumpri até ao fundo o meu dever como representante pontifício e que os meus superiores não deixaram de apreciar o meu trabalho”, disse Ivo Scapolo em resposta à pergunta: “O senhor foi apontado como encobridor. Como responde a isso?”.

O novo representante diplomático em Portugal exercia as mesmas funções no Chile desde 2011 e sucede no cargo em Lisboa a Rino Passigato, que renunciou por limite de idade.

A igreja católica chilena foi afectada nos últimos anos por uma crise provocada por casos de abusos sexuais que levaram à renúncia de vários bispos e à intervenção do Papa.

A visita do Papa Francisco ao Chile, em 2018, ficou envolta em polémica com indicações de que o pontífice foi mal informado pelo seu núncio apostólico, Ivo Scapolo, bem como pela hierarquia do episcopado católico chileno.

Algumas vítimas de abuso sexual no Chile queixaram-se da falta de apoio do núncio italiano, designado para trabalhar no país no verão de 2011.

Ivo Scapolo garante que recebeu várias pessoas que entregaram o seu testemunho, como vítimas ou denunciantes, que cumpriu o seu dever e que tem a consciência tranquila.

“Lamento que em alguns casos isso não tenha sido possível e que tenha causado sofrimento em algumas pessoas”, disse acrescentando que é função de um núncio ajudar para que se realizem de maneira adequada os procedimentos, ajudando e acompanhando, se necessário, as vítimas ou os denunciantes.

Desde a sua chegada ao Chile em 2011, assegura que tratou de vários casos de abusos, mas com a visita do Papa teve de encarar uma avalanche de denúncias, petições e queixas.

“Penso ter feito o que é humanamente possível para a enfrentar. Tentei agir conforme a verdade, justiça e caridade. Sempre se pode fazer melhor; mas, creia-me, fez-se o que era possível”, frisou admitindo, contudo, que como Igreja, não houve várias vezes coragem de acolher as denúncias e tomar a tempo as devidas medidas.

O arcebispo italiano, que nunca deu uma entrevista enquanto esteve no Chile, concorda com a judicialização dos casos considerando recomendável “que se proceda segundo o ordenamento civil e canónico”.

Um total de 158 casos de abuso sexual envolvendo 219 membros da Igreja estão a ser investigados no Chile. Das 241 vítimas identificadas, 123 eram menores na altura dos abusos.

Na sequência desta crise chilena o Papa decidiu realizar uma cimeira sobre protecção de crianças e abusos sexuais na Igreja, a 21 a 24 de Fevereiro deste ano no Vaticano, convocando os presidentes de todas as conferências episcopais.

Ivo Scapolo disse ainda ao jornal chileno que depois de a Igreja ter conhecimentos dos casos aprendeu, através do doloroso relato das vítimas, a ser mais empático, o dever de acompanhar as vítimas, o assegurar procedimentos mais adequados e a trabalhar na prevenção.

Sobre a nunciatura em Portugal, o bispo italiano explica que é um regresso que recebe com agrado, lembrando que já esteve no país como secretário nos fins dos anos 80.

“Como o Chile, também Portugal é um lindo país, com uma gloriosa história e um rico património artístico. Além disso alegra-me saber que poderei visitar de novo o fascinante Santuário de Fátima e os lugares onde viveu Santo António, por quem tenho uma especial devoção”, disse.