“O partido é muito mais do que a batalha eleitoral”

Nos últimos meses, os comunistas têm apostado mais nas redes sociais. E, depois do mau resultado de dia 6, estão a tentar dar a volta com vídeos para passar a imagem do que é a “essência” do trabalho de proximidade do PCP.

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Jerónimo de Sousa na noite de dia 6 de Outubro na declaração sobre o resultado da CDU Francisco Romao Pereira

Às três e meia da madrugada de segunda-feira, ainda se lambiam as feridas pelo mau resultado eleitoral de domingo, a equipa de propaganda da Soeiro Pereira Gomes lançava nas redes sociais um vídeo de pouco mais de dois minutos a explicar a “essência” do PCP. “Ontem, depois de contados os votos, nas TV e jornais fizeram-se longas análises e especulações. Sentenciaram tudo o que havia para sentenciar. Só não explicaram aquilo que nunca irão perceber. Não explicaram como é que há um partido que não se ilude nem deprime com eleições e que mesmo depois de desligados os holofotes e as câmaras está, nas horas seguintes, à porta da tua empresa, no teu bairro, na tua escola, com o mesmo empenho, a mesma determinação, a lutar ao teu lado”, ouve-se no início.

“É uma mensagem para levantar a moral? Não; é para recentrar” o foco da acção do partido. É para passar a ideia de que não é um mau resultado nas eleições que deita os comunistas abaixo ou que os tirará da rua ou da porta da empresa, descreve Carina Castro, uma das responsáveis pelas redes sociais do PCP e membro do Comité Central.

O vídeo intitula-se “Lutar, intervir, avançar: Nós somos o PCP” - que se adivinha a nova “assinatura” do partido para esta legislatura - e a narradora é a actriz Joana Manuel. Tem um tratamento cuidado de imagem, som e mensagem, e assume uma linha moderna de propaganda política que não é habitual entre os comunistas. Estes costumam preferir, nos tempos de antena e nos vídeos que partilham nas redes sociais, imagens das caras mais conhecidas do partido, como Jerónimo de Sousa, João Ferreira ou Rita Rato, e dos grandes eventos como a festa do Avante!, manifestações e arruadas.

Desta vez, há uma preocupação de chegar à consciência do espectador mostrando um partido que não desiste, que está sempre onde os trabalhadores estão, que está com as pessoas independentemente de a campanha eleitoral ter terminado há dois dias e de a contagem dos votos estar encerrada há algumas horas, justifica Carina Castro.

O objectivo assumido é passar a “ideia de que o partido é mito mais do que a batalha eleitoral”, vinca. “Há uma componente emotiva que é relevante”, admite. E Diogo Vasconcelos, também do departamento de propaganda, acrescenta: “O relato mais ou menos cru do partido funciona como catalisador emocional.” Ou seja, quem olha para as imagens de trabalhadores à entrada da fábrica ao nascer do sol a receberem folhetos das mãos de militantes recebe a mensagem de que os comunistas estão com eles todos os dias.

“Não ignoramos que saímos em piores condições [das legislativas], mas a intervenção social, política e no quotidiano das pessoas vai tão para lá disso [do resultado eleitoral], que não vamos deixar de ir às empresas, aos transportes públicos, aos CTT, por termos menos deputados. Não vamos deixar de estar lá; temos é menos força” para intervir politicamente no Parlamento, argumenta Carina Castro.

Apesar da notória evolução na forma de passar a mensagem, ambos garantem que não houve qualquer preparação especial, input de agência de marketing ou sequer formação específica. “O vídeo foi pensado no último dia de campanha eleitoral”, diz Diogo. Ou seja, na Soeiro já se antecipava um resultado pouco auspicioso, embora os comunistas gostem de, até ao fim, desvalorizar as sondagens. “Havia todo um tom externo ao partido, que já não é desta campanha mas vem das europeias e das autárquicas, de quebra. Era importante que houvesse algo que contrariasse esse cerco”, justifica Carina, que é também membro do Comité Central do PCP.

Apesar de ter sido o primeiro partido português a ter website, a caminhada digital do PCP foi feita sempre com muita cautela. Nas redes sociais os passos têm sido lentos, mas em ano de duas eleições, houve um esforço no Facebook e a CDU estreou-se no Instagram e no Whatsapp. Diogo Vasconcelos recorda que nas europeias fizeram um vídeo sobre “como se constrói uma campanha para lá dos candidatos” como forma de agradecer aos militantes que a fazem. “É dar-lhes rosto e palco.” A que se somaram, nos últimos meses, vídeos de testemunhos sobre a mudança provocada pela “geringonça” na vida de algumas pessoas – da jovem mãe aos trabalhadores de call center -, ou sobre os murais pintados na campanha, e outros de candidatos.

Há também um quiz Achas que sabes tudo sobre os partidos?, com perguntas sobre medidas e declarações políticas que pretende “desmistificar” algumas ideias sobre o trabalho do PCP e do PEV. O conteúdo mais recente tenta explicar por que o PCP não assina entendimentos com o PS: “Papel? Não sejas Cavaco”.

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