Bolsonaro pede auditoria externa ao seu próprio partido e PSL contra-ataca

O Presidente brasileiro tenta afastar-se do PSL, o partido que usou para se eleger para a presidência, e que é investigado por abusar dos fundos eleitorais atribuídos pelo Estado. Mas o partido está também em guerra com Bolsonaro.

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A campanha de Bolsonaro também pode ter beneficiado deste desvio de verbas Adriano Machado/REUTERS

O Partido Social Liberal (PSL), formação política que em 2018 levou ao poder o actual Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, vai ser alvo de uma auditoria externa, a pedido do próprio governante. O partido, em reacção à guerra aberta por Bolsonaro, respondeu pedindo uma audição às contas da campanha eleitoral do Presidente, eleito em Outubro de 2018.

Segundo a imprensa brasileira, além de Jair Bolsonaro, 21 parlamentares do PSL fizeram um pedido formal para que o partido forneça documentos e informações sobre as contas partidárias dos últimos cinco anos, incluindo os dados dos últimos meses. O analista da Globo Gerson Camarotti explica no seu blogue que o objectivo destes deputados é abandonar o partido juntamente com o Presidente, se este formalizar a sua ameaça.

No documento, é afirmado que os advogados de Bolsonaro submeterão os dados a uma auditoria “externa” e “independente”, e declaram que o objectivo é saber se a aplicação dos recursos públicos recebidos pelo PSL é feita de forma correcta, segundo o portal de notícias G1.

O texto diz ainda que uma análise preliminar nas prestações de contas entregues à Justiça Eleitoral mostra que estas “são sempre apresentadas de forma precária”. “O notório sucesso do PSL na campanha eleitoral de 2018, oportunidade em que elegeu 54 deputados federais, é o factor que resultou no súbito aumento de mais de dez vezes nos recursos públicos que receberá neste ano. Com isso, calha a responsabilidade de rigoroso acompanhamento das despesas do partido”, diz o texto, a que o G1 teve acesso.

Entre os autores do pedido estão dois filhos do chefe de Estado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro.

A auditoria externa surge num período de crise interna do PSL, em que muitos deputados de primeira linha têm criticado o rumo seguido pela governação de Bolsonaro. Mas as suspeitas em torno dos candidatos “laranja” - falsos candidatos, ou candidatos sem hipóteses de serem eleitos, mas que são usados para garantir verbas de apoio à sua candidatura atribuídas pelo Estado, que são usadas pelo partido para outros fins - já se arrastam desde o início do ano. Levaram aliás à primeira baixa no Governo de Jair Bolsonaro - a de Gustavo Bebiano, um dos principais artífices da candidatura do Presidente.

Apesar de Bolsonaro ter entrado agora com um pedido de prestação de contas do seu próprio partido, na passada quarta-feira o Presidente afirmou que “por enquanto” permanecerá no PSL, comparando a crise nesta formação política a uma “discussão entre marido e mulher”.

“Por enquanto, eu continuo [no PSL]. Não existe crise. É uma discussão entre marido e mulher, de vez em quando acontece. O problema não é meu. O pessoal quer um partido diferente, actuante. O partido está estagnado. Não tem confusão nenhuma”, afirmou o chefe de Estado em Brasília, em declarações a jornalistas brasileiros.

Luciano Bívar, líder do PSL, afirmou no mesmo dia que Bolsonaro “já está afastado” da formação política, numa aparente ruptura entre ambos.

A polémica começou quando, na terça-feira, Bolsonaro orientou um seu apoiante a esquecer o PSL, partido de que é militante, acrescentando que Luciano Bivar, está “queimado”.

Após a polémica, Bívar declarou ao portal de notícias G1 que Bolsonaro “já está afastado” e “esquecido” do partido.

O PSL enfrenta ainda problemas na justiça. O Ministério Público (MP) Eleitoral do Estado brasileiro de Minas Gerais acusou na semana passada o actual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, de desvios de recursos do fundo eleitoral de 2018, do PSL.

Além do ministro do Turismo, outras 10 pessoas foram acusadas dos crimes de falsidade ideológica, apropriação indevida eleitoral e associação criminosa. “Após cerca de oito meses de investigação, o Ministério Público Eleitoral acusou (...) 11 pessoas por envolvimento num esquema de desvio de recursos por meio de ‘candidaturas fantasma’ nas últimas eleições”, segundo o procurador de Justiça Eleitoral Fernando Abreu, citado no ‘site’ do MP.

Todos os acusados estão ligados ao PSL.

Segundo o jornal Folha de São Paulo, também a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro saiu beneficiada com esse desvio de verbas.