Festival Flamenco aposta em nomes fortes em Lisboa e estreia-se no Porto
O pianista Dorantes, a Camerata Flamenco Project e o bailaor Eduardo Guerrero são os nomes fortes da 12.ª edição do festival, que este ano chega à segunda cidade do país.
Começou como Festival Flamenco de Lisboa, em 2008, mas na sua 12.ª edição em 12 anos arrisca outras fronteiras. Organizado pela Associação Flamenco Atlântico, com Francisco Carvajal (que foi o seu fundador) como director artístico, realiza pela primeira vez o Festival Flamenco Porto, na Casa da Música, e vem promovendo outros espectáculos pelo país, como os que se realizaram a 13 de Julho em Lagoa, com as irmãs Úrsula e Tamara López (bailaoras que brilharam na edição de 2018 em Lisboa) ou a 17 de Agosto, em Évora, com o celebrado pianista flamenco Dorantes. Isto além de uma presença semanal ao longo de Setembro, todas as quintas-feiras, no Casino do Estoril, por onde passaram Familia de Los Reyes, Santiago Lara, José Luis Montón Quarteto e Felipe Mato.
Este ano, o Festival de Lisboa divide-se por três noites não consecutivas. A primeira será na Voz do Operário, dia 12, com a Camerata Flamenco Project e a Companhia da cantaora Célia Romero. E as outras são na Aula Magna: dia 24, Dorantes; e um mês depois, a 29 de Novembro, Eduardo Guerrero. Sempre às 21h. O Porto receberá os mesmos artistas (excepto Célia Romero), mas começa dois dias antes, já esta quinta-feira, também às 21h: dia 10, a Camerata Flamenco Project, na Sala 2; dia 23, Dorantes, na Sala Suggia; e dia 25 de Novembro Eduardo Guerrero, também na Sala Suggia.
Dorantes no piano como Paco de Lucía na guitarra
Multipremiado e elogiado pela sua distinção no piano flamenco, David Peña Dorantes nasceu em 1969, em Lebrija, província de Sevilha, numa das famílias ciganas que mais artistas de nomeada deu ao flamenco ao longo dos últimos 150 anos. Francisco Carvajal descreve-o ao PÚBLICO deste modo: “É um pianista excepcional, com um rigor técnico e artístico máximos. Já dizem que aquilo que Paco de Lucía fez com a guitarra está agora Dorantes a fazer com o piano. Creio que vai ter um grande impacto vê-lo aqui ao vivo, o que não é a mesma coisa do que vê-lo tocar a partir de gravações.”
Francisco Carvajal conta, a propósito, duas histórias relacionadas com concertos de Dorantes: “A Yamaha construiu um protótipo de piano de que foram feitos apenas dois exemplares, que estão entregues a Chick Corea e a Dorantes, para testá-los. Em Junho, Dorantes foi tocar a um festival nos Alpes suíços, a dois mil metros de altura. Mas não havia um piano em condições. Então, trouxeram-no de helicóptero, de Munique, e no final voltou a ser recolhido de helicóptero.” Em Évora passou-se algo idêntico, mas sem helicópteros. O piano, alugado, até era bom, mas Dorantes achou que com ele não conseguiria atingir o ponto exigido à sua música. “Então, às 8h da manhã chegou a Évora um camião celular com ar condicionado, uma equipa de oito pessoas e um piano à medida de Dorantes. O piano foi montado no local, com o autocarro à espera, e foi retirado pelo mesmo método no final.”
Dorantes já gravou cinco álbuns em nome próprio: Orobroy (1999), Sur (2001), Sin Muros! (2012), Paseo a Dos (de parceria com Renaud Garcia-Fons, 2015) e El Tiempo por Testigo (2017), disco que celebra os seus 20 anos de carreira artística e serve de base às suas apresentações em Portugal. Com Dorantes (piano), estarão Javier Moreno (contrabaixo), Javi Ruibal (bateria) e Leonor Leal (baile).
Já a Camerata Flamenco Project, que soma mais de 15 anos de ligação ao flamenco, ao jazz e à música clássica, vem recriar ao seu modo El Amor Brujo, de Manuel de Falla, sob a designação Falla 3.0, isto depois de já ter recriado outras obras de autores clássicos como Debussy ou Erik Satie. Composta por José Luís López (violoncelo), Pablo Suárez (piano) e Ramiro Obedman (saxofone e flautas), a Camerata conta neste seu espectáculo com a participação de Anabel Veloso (baile). Em Lisboa, na mesma noite da Camerata, actuará também a cantaora Célia Romero. Nascida em Herrera del Duque (Badajoz), em 1995, filha do guitarrista Félix de Herrera, começou a sua carreira artística aos sete anos e tem actuado nalguns dos mais relevantes palcos de Espanha. Na Voz do Operário terá com ela os músicos Francisco Pinto (guitarra), Félix Romero e Luis Vadillo (vozes e palmas).
Estilo antigo e delicadeza contemporânea
Por fim, Eduardo Guerrero. Nascido em Cádis, em 1983, estudou Dança Espanhola no Conservatório de Dança de Cádis, aperfeiçoando os seus conhecimentos com David Greenall e Montserrat Marín. Depois de interpretar papéis principais em companhias distintas (Eva Yerbabuena, Rocío Molina, Antonio Canales), criou em 2011 a sua própria coreografia, Mayo, que ganhou o primeiro prémio no Concurso Coreográfico de Conservatórios Profissionais. Distinguido com vários prémios, o tema do espectáculo que traz a Portugal é o amor como território de “combate”. Chama-se Guerrero, como o seu nome, e cita Sun Tzu, na sua icónica obra A Arte da Guerra, para dizer que “a melhor vitória é vencer sem combater”. Isto adaptado ao “teatro de operações do amor”. O director artístico Francisco Carvajal fala da forma como Eduardo Guerrero vem a distinguir-se no baile: “O que o diferencia dos contemporâneos como Israel Galván, Rocío Molina, Juan Carmona? É que ele tem um bater de pés forte, ao estilo antigo, mas maneja o corpo com a mesma delicadeza dos seus contemporâneos.”
Desde a primeira edição, 2008, como Festival Flamenco de Lisboa, passaram pelo festival nomes como Enrique Morente, Miguel Poveda, Carmen Linares, Miguel de Tena, Juan Manuel Cañizares, Fuensanta La Moneta, Pepe Habichuela, Estrella Morente, Farruquito, Jorge Pardo, Amós Lora, Javier Conde, Gerardo Núñez, Antonio Carbonell, Miguel e Juan Vargas, La Kaíta, Carmen Cortés, “El Peregrino”, El Yiyo e El Tete, Úrsula e Tamara López, Esther Merino e Maria Juncal.