Portugal luta pela última medalha nos Mundiais
Mamona compete este sábado na final do triplo salto, mas, na sexta-feira, houve provas tremendas no salto em altura, com festa do atleta da casa, e nos 3000 metros obstáculos, com medalha de ouro decidida no photo-finish.
A última esperança de Portugal conquistar uma segunda medalha nos Mundiais de atletismo está a cargo de Patrícia Mamona, que estará este sábado, a partir das 18h35 (hora de Portugal continental), na final do triplo salto. Mas o melhor mesmo é o país esfriar o ímpeto e a “sede de conquistas”, já que a portuguesa está longe de ser uma das favoritas.
Em Doha, a saltadora tem uma autêntica montanha para escalar. Ou para saltar. Mamona, que já não seria uma das favoritas, sê-lo-á ainda menos agora, depois de uma qualificação modesta. A atleta do Sporting conseguiu lugar na final “por um triz” — sem marca de qualificação directa, acabou por ficar com a décima das 12 vagas — e sabe que os 14,21m conseguidos na qualificação só por milagre darão direito a subir ao pódio. Entre as finalistas, Mamona tem a quarta marca mais modesta em 2019 e o quinto recorde pessoal mais fraco, pelo que, este sábado, no Estádio Khalifa, os portugueses terão de ver superação por parte da sportinguista. E mesmo superação poderá não chegar, porque há atletas num nível bem superior.
Não será um risco se a organização da prova começar já a inscrever o nome de Yulimar Rojas na medalha de ouro. E a preparar já o hino venezuelano, claro. A sul-americana só num tremendo descalabro não será bicampeã do mundo, já que é, de longe, a melhor atleta em prova. Pelo potencial e capacidades físicas — uma gigante de 1,92m em plena forma —, mas também pelos números: é a única a ter saltado mais de 15 metros em 2019 e chega a Doha com a segunda melhor marca de sempre. Os restantes lugares do pódio não estão com “pré-reserva”, como o de Yulimar, mas há altas probabilidades de Mamona ter, como principais rivais, a jamaicana Ricketts, a outrora campeã Ibarguen e a norte-americana Orji. Resta a Mamona fazer valer o estatuto de outsider e evitar um pódio totalmente americano.
Festa rija no Qatar
O dia de ontem ficou marcado, sobretudo, pela primeira prova com verdadeiro ambiente de Mundiais. Numa competição até aqui em ambiente “fantasma”, com estádio vazio e silêncio em muitas provas, aquilo de que estes Mundiais precisavam era de um grande atleta da casa a competir numa final e, melhor ainda, a ser campeão. E foi isso que aconteceu.
A final masculina do salto em altura tinha Mutaz Barshim e, apesar da temporada pouco conseguida, o público do Qatar, com um bom candidato à vitória, encheu o sector do estádio mais próximo da zona do salto em altura.
Houve explosão com a apresentação de Barshim, festa nos primeiros saltos — até nos fáceis — e loucura com mais um título mundial do atleta do Qatar, o segundo consecutivo.
A prova do sector feminino já tinha sido tremenda, com o despontar da nova estrela Mahuchikh, mas a masculina não ficou atrás. Desempenho de altíssimo nível, já que teve, surpreendentemente, sete atletas acima dos 2,30m e três com recordes pessoais nesta prova.
A “marca da morte” foi 2,33m: três dos sete atletas ainda em prova falharam nessa marca, deixando a discussão das medalhas entre Akimenko, Nedasekau, Ivanyuk e Barhshim. Este último passou os 2,33m apenas à terceira tentativa e, claro, houve loucura: estádio em erupção e Barshim aos gritos. A seguir, passou os 2,35m à primeira tentativa, “repetindo a dose” nos 2,37m. Tremendo desempenho do segundo melhor saltador de sempre (já saltou 2,43m, dois centímetros menos do que o recorde mundial do cubano Javier Sottomayor), a “renascer das cinzas”, depois de estar quase eliminado nos 2,33m. E como aos 2,37m já ninguém chegou, houve “festa rija” no Qatar.
Por fim, destaque para o desfecho dramático dos 3000 metros obstáculos, com final ao photo-finish. Kipruto e Girma cruzaram a meta juntos e nenhum festejou. Silêncio, espera e… festejo de Kipruto. Mas Girma não sai de “mãos a abanar” – não só leva a prata como bateu o recorde nacional da Etiópia.