Exoesqueleto controlado pelo cérebro permitiu a Thibault voltar a andar

Uma espécie de fato controlado pelo cérebro pode ser uma nova esperança para pessoas tetraplégicas ou que não conseguem mover um ou vários dos seus membros. A ideia de colaboração de um laboratório e de uma universidade francesa não é inovadora, mas é um avanço perante outras abordagens semelhantes.

Fotogaleria
O exoesqueleto de 65 quilos em acção CLINATEC
Fotogaleria
Reuters/FONDS DE DOTATION CLINATEC/LA BR
Exoesqueleto
Fotogaleria
CLINATEC
Fotogaleria
CLINATEC
Fotogaleria
CLINATEC

Numa noite de 2015, Thibault, um oculista francês de 24 anos, estava num espaço de diversão nocturna quando caiu abaixo de uma varanda, 12 metros acima do chão. A lesão na medula espinal deixou-o paralisado dos ombros para baixo e preso a uma cama de hospital durante dois anos. Agora, um exoesqueleto controlado pelo cérebro, desenvolvido pela Fonds de Dotation Clinatec, uma clínica de investigação francesa, e pela Universidade de Grenoble, em França, pode devolver-lhe a esperança de voltar a andar. A ele e a todos os tetraplégicos que anseiam recuperar os seus movimentos.

Todos os detalhes do funcionamento do exoesqueleto, bem como informações sobre a forma como os pacientes são capazes de os controlar com o cérebro, foram publicados esta quinta-feira na secção de neurologia da revista científica The Lancet.

Entre 12 de Junho de 2017 e 21 de Julho de 2019, o paciente controlou cerebralmente um programa que simulava movimentos articulares dos membros superiores com oito graus de liberdade, bem como múltiplos movimentos de articulações, e realizou várias tarefas de alcance, toque e rotações do pulso, usando um avatar virtual em casa (64% de sucesso) ou um exoesqueleto em laboratório (70,9% de sucesso). “Comparado com outros métodos, como os microeléctrodos​, este é semi-invasivo e possui uma eficiência semelhante”, lê-se nas descobertas do estudo.

O homem, identificado no estudo apenas como Thibault, treinou durante meses, primeiro com um simulador virtual que usava para realizar movimento básicos e só numa fase posterior com o exoesqueleto para conseguir andar e mexer os membros superiores consoante a sua vontade. Durante esse período de tempo, reaprendeu vários movimentos naturais do zero através de um jogo de computador, factor crucial para conseguir operar o exoesqueleto.

Thibault, citado pela AFP, diz que o dispositivo, de 65 quilos, lhe mudou a vida e que se sentiu “como o primeiro homem a pisar a lua” quando vestiu o exoesqueleto. “Quando estás na minha posição não podes fazer nada com o corpo, então eu decidi fazer algo com o meu cérebro”, disse Thibault à AFP. “Não posso ir para casa amanhã no meu exoesqueleto, mas cheguei a um ponto em que posso andar quando quero e parar quando quero.”

A lesão da medula espinal cervical deixa cerca de 20% dos pacientes com paralisia nos quatro membros e é a lesão mais grave deste género. “O cérebro ainda é capaz de gerar os comandos que normalmente faria mover os braços e as pernas, só que neste caso não há nada para os executar”, refere Alim-Louis Benabid, professor da Universidade de Grenoble e principal autor do estudo publicado na Lancet

Dispositivos de gravação e descodificação ,Dispositivos de gravação e descodificação CLINATEC,CLINATEC
CLINATEC
Fotogaleria
Dispositivos de gravação e descodificação ,Dispositivos de gravação e descodificação CLINATEC,CLINATEC

Para que Thibault conseguisse controlar o exoesqueleto com a mente, foi preciso ser submetido a um implante de dois dispositivos de gravação e descodificação nos dois lados da cabeça, entre o cérebro e a pele, intervenção que foi realizada por uma equipa de especialistas do Hospital Universitário de Grenoble Alpes. Estes dois dispositivos servem para ler o córtex motor, a região do cérebro que controla a função motora.

“Cada descodificador transmite os sinais cerebrais que são traduzidos por um algoritmo para os movimentos em que o paciente pensou. É este sistema que envia comandos físicos que o exoesqueleto executa”, explicam os autores do estudo que, apesar de não ser inovador no uso de impantes para estimular músculos do corpo humano, é o primeiro a usar sinais cerebrais para controlar o exoesqueleto de um robô — e é um avanço perante outras abordagens semelhantes.

Os médicos responsáveis pelo estudo afirmam que o aparelho não ficará já disponível para o público, uma vez que, para funcionar e ser seguro, o paciente tem ainda de ser amarrado ao tecto para minimizar o risco de cair.

Ainda assim, os médicos e cientistas responsáveis pelo projecto sublinham que este tem “o potencial de melhorar a qualidade de vida e a autonomia dos pacientes” e que pode ser adaptado, por exemplo, para cadeiras de rodas controladas pelo cérebro.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários