Bloco quer garantir que será parte da solução
Preparado para assumir a responsabilidade de ser Governo, o Bloco de Esquerda apresentou-se nesta campanha como o partido das “contas certas”. Ao PÚBLICO, Mariana Mortágua explica porquê. Depois de duas semanas a ouvir os eleitores, Catarina Martins quer cumprir o que ficou por fazer nos últimos quatro anos.
Foram mais de três mil quilómetros em menos de duas semanas. De Faro a Viana do Castelo, o Bloco de Esquerda teve a mesma mensagem em todas as paragens. Catarina Martins gostou da “geringonça”, mas quer mais. Quer mais deputados e quer mais poder em São Bento. O partido das “contas certas” fez os seus cálculos e escolheu cirurgicamente os distritos nos quais tem ambição de eleger mais deputados do que em 2015. Catarina Martins quer impedir uma maioria absoluta de António Costa e garantir que continua a ser parte da solução governativa. Mas o Bloco não quer apenas reeditar a “geringonça”. A ambição dos bloquistas cresceu. E o BE quer crescer com ela.
A cada distrito, Catarina Martins falou do que o BE ajudou a conquistar nos últimos quatro anos. Fê-lo em discursos, comícios, declarações aos jornalistas e, um a um, aos eleitores que a abordavam. A cada beijinho nas ruas, Catarina Martins entregava uma conquista com a marca do Bloco. “Repusemos as pensões e aumentámos os salários, mas precisamos de fazer mais, não é?” - foi uma das frases mais repetidas durante as acções de campanha na rua. Se alguém se queixava de uma dor no joelho, Catarina Martins lembrava que é preciso investir mais no SNS. Se alguém se queixava da falta de dinheiro, Catarina Martins lembrava a proposta de aumento do salário mínimo nacional.
Durante estas semanas, a campanha bloquista assentou essencialmente em cinco temas: a recuperação dos salários; recuperação de pensões; a protecção do Serviço Nacional da Saúde; o investimento nos serviços públicos e na coesão do território; e a aposta nos transportes públicos como a resposta à emergência climática.
E se na primeira semana o Bloco se concentrou em visitas a trabalhadores e comícios do partido, na segunda semana saiu às ruas. A arruada do Porto foi um dos momentos mais calorosos desta campanha e reuniu algumas das vozes que a marcaram: Fernando Rosas, Marisa Matias, Mariana Mortágua, José Soeiro, Joana Mortágua, José Gusmão e Francisco Louçã.
Por várias vezes, a líder bloquista reconheceria que mais poderia ter sido feito. E apontava responsáveis: ora o PS ora a direita. Noutras tantas vezes, as críticas bloquistas eram enviadas a ambos. Foi o caso da aprovação das alterações à legislação laboral, com os votos a favor do PS e com a abstenção do PSD e do CDS-PP. O tema seria recuperado na primeira semana de campanha com a entrega no Tribunal Constitucional do pedido de fiscalização das alterações ao Código do Trabalho. O momento veio ajudar a vincar a distância que o Bloco quer impor em relação ao PS, ideia que repisaria nestas duas semanas de campanha.
Do conjunto de partidos com assento parlamentar, houve apenas um que a campanha bloquista jamais referiu: o PAN. O nome de André Silva (ou do seu partido) nunca foi pronunciado. Mas se o BE conseguiu fugir do PAN, não teve o mesmo sucesso num dos temas que não largou a campanha. O caso Tancos disputaria várias vezes a agenda do dia, mas a líder bloquista reconduzia sempre a conversa para a discussão das suas propostas.
Numa conversa com o PÚBLICO, num balanço de final da campanha, Mariana Mortágua diz que os grandes desafios da próxima legislatura “são aquilo que ficou por fazer”. Por isso, no domingo, o BE espera conseguir um resultado que lhe dê “força nas áreas que vão marcar a próxima legislatura e num conjunto de pastas e dossiers em que não foi possível fazer tanto” quanto gostaria. Os serviços públicos, a economia, o investimento público e o trabalho são as prioridades. E o Bloco quer ser a prioridade numa solução governativa.