Passageiros acusam Ryanair de poupar milhões em compensações
A Ryanair decidiu abandonar o sistema de compensação Aviation ADR. Até sair já tinha sido obrigada a pagar um total de 2,6 milhões de libras (mais de 2,9 milhões de euros) aos passageiros.
A Ryanair terá poupado milhões de euros em compensações com a decisão de sair da entidade reguladora Aviation ADR, deixando vários passageiros sem acesso a uma das únicas duas plataformas britânicas que lhes permite tentar receber compensações por falhas nos seus voos, avisou o grupo de apoio aos consumidores Which?, de acordo com o The Guardian.
A Ryanair saiu da Aviation ADR - sistema que ajuda a resolver problemas entre passageiros e companhias aéreas e/ou aeroportos – em Novembro de 2018, e as reclamações passaram a ser feitas à reguladora Autoridade de Aviação Civil (CAA), o outro sistema equivalente de compensações. Nos primeiros 11 meses de 2018, até à saída da companhia aérea, a Aviation ADR recebeu mais de 14 mil queixas que envolviam a companhia irlandesa e que a obrigaram a pagar 2,6 milhões de libras (mais de 2,9 milhões de euros) aos passageiros, para além das 75 libras (cerca de 84 euros) associadas aos custos administrativos de cada reclamação.
Depois da saída da Ryanair, apenas 553 passageiros fizeram as suas reclamações na CAA. Segundo a Which?, a companhia teve uma “enorme poupança em taxas e compensações”, já que “não pode ser obrigada a pagar, mesmo que o regulador da aviação dê razão ao passageiro”. Em Abril de 2019, 446 destas reclamações estavam por resolver.
A origem do conflito entre a Ryanair e a Aviation ADR remonta ao início de 2018, quando a companhia tentou contornar as reclamações feitas por passageiros na sequência de vários cancelamentos provocados por greves dos pilotos ou tripulantes. O Tribunal de Justiça europeu decidiu que as greves não eram uma circunstância extraordinária, o que levou a Aviation ADR a decidir a favor dos passageiros nas reclamações contra a companhia irlandesa na sequência das sucessivas greves.
A Which? concluiu ainda que, mesmo antes de a Ryanair sair da reguladora, os passageiros reclamavam que a companhia demorava até um ano para pagar as compensações. O grupo de apoio ao consumidor destacou o caso de Kasia Nieduzak, que apresentou uma queixa depois de o seu voo ter sido cancelado em Setembro de 2017. Kasia recebeu a decisão da reguladora em Julho de 2018 e o pagamento em Novembro desse mesmo ano – isto tudo num processo que envolveu 170 chamadas telefónicas e 45 e-mails.
A Ryanair disse à Which? que essa não era a sua política habitual, mas admitem o erro que dizem não ser “representativo”. Além do mais, referiram que todos os clientes foram avisados para contactar a CAA ou as autoridades europeias e não a Aviation ADR, após a sua saída.
O grupo de apoio aos consumidores diz que “todas as companhias aéreas se devem inscrever num único esquema de resolução para garantir que os passageiros são tratados de maneira justa e que o dinheiro é pago”.