O papagaio-mor e outras histórias mal contadas

Tancos é uma telenovela com muitos episódios pela frente. Ainda bem que está a ser discutida na campanha eleitoral, por muito que isso irrite António Costa.

Tancos tem esta coisa fascinante: é uma história patética que põe a nu as brutais fragilidades institucionais de Portugal. Se pensarmos bem, nenhum dos envolvidos agiu de forma excessivamente malévola, e estou até convencido que boa parte deles – da PJM à GNR – entendeu que estava a proteger a honra da instituição militar. Reparem: os ladrões assustaram-se com as notícias e quiseram devolver o que roubaram; a PJM sentiu-se despeitada e humilhada pela PGR e concluiu que era mais importante recuperar as armas e repor o orgulho ferido do Exército do que apanhar os criminosos, procurando passar a perna à PJ; os oficiais avisaram o ministro, tanto para protegerem as costas como por estarem muito convencidos de que estavam a agir em nome do interesse nacional; e Azeredo Lopes, pobrezinho, foi apenas Azeredo Lopes – um especialista em fintas de bastidores, que tem o problema de todas as pessoas a quem falta orientação ética e moral: é capaz de grandes e pequenas mentiras, de voltas e de reviravoltas, acabando a fintar-se a si próprio. Tancos é uma ode ao desenrascanço português e ao orgulho ferido, mas é também uma elegia acerca da perda da dignidade pessoal e do respeito institucional. Todos os envolvidos tentaram improvisar e safar-se. Nenhum cumpriu o seu dever.

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