Guineense Braima Dabó ajuda atleta de Aruba a terminar os 5 mil metros
Dabó, atleta do clube português Maia Atlético Clube e aluno do Politécnico de Bragança, voltou atrás para “carregar” o colega. Os dois receberam uma enorme ovação do público presente nas bancadas.
Braima Dabó, da Guiné-Bissau, ajudou o atleta Jonathan Busby, de Aruba, uma pequena ilha das Caraíbas, a terminar a prova eliminatória dos 5000 metros nos Campeonatos do Mundo de atletismo, no Qatar, que tiveram início durante a passada sexta-feira.
A cerca de 250 metros da meta, Jonathan Busby, de Arruba, uma pequena ilha das Caraíbas, apresentou dificuldades para se manter em pé devido às altas temperaturas no Estádio Internacional Khalifa, em Doha. Dabó, do clube português Maia Atlético Clube, não deixou a situação passar em claro, voltando atrás para “carregar” o colega e concluírem a prova ao mesmo tempo.
Apesar de terem sido os últimos, com um tempo na casa dos 18 minutos, numa prova ganha pelo etíope Selemon Barega (13.24,69 minutos), os dois atletas receberam uma enorme ovação do público presente nas bancadas.
Em declarações à agência Lusa, Braima Dabó, de Guiné-Bissau, diz estar satisfeito por ter o ajudado o atleta Jonathan Busby a terminar a prova eliminatória. "Sinto-me orgulhoso por representar o meu país ao mais alto nível, apesar de não ter batido o meu recorde pessoal. Já vinha a sofrer quando faltavam três voltas e percebi que essa meta estava fora do meu alcance. Tinha as pernas pesadas e estava a custar-me bastante fazer a última volta, mas, quando reparei que ele precisava de ajuda, fiz o que qualquer um estaria disposto a fazer naquela posição”, reconheceu o atleta.
Braima Dabó e Jonathan Busby eram os únicos representantes dos respectivos países na 17.ª edição dos mundiais, devido às quotas atribuídas pela Federação Internacional de Atletismo. Partiram sem expectativas de alcançar a final dos 5 mil metros, tendo descolado com naturalidade do pelotão. “Estivemos juntos no dia em que cheguei ao hotel, hoje cumprimentámo-nos na câmara de chamada e depois do tiro da partida nunca mais consegui falar com ele. Deu-me sempre algum avanço até àquele momento. Ele só fala inglês e eu só falo português, mas percebi na chegada que me tinha agradecido”, disse Braima Dabó.
Apesar do clima desértico ser inevitável para quem está hospedado em Doha, Braima Dabó, que aterrou no Qatar na terça-feira, admite que o forte calor e humidade podem ter “condicionado” o desempenho de Jonathan Busby, mesmo com uma “temperatura razoável” no interior do estádio. O recinto ameniza a temperatura devido a um sistema de refrigeração
“Quando cheguei aqui, saí do aeroporto para entrar no autocarro e apanhei um susto por causa da temperatura. Na Guiné-Bissau não chega a metade disto e os 35 graus Celsius de lá não são comparáveis aos 30 graus daqui”, estabeleceu.
Braima Dabó, de 26 anos, vive em Portugal desde 2011, ao abrigo de um projecto criado pela organização não-governamental Na Rota dos Povos, que apoia o desenvolvimento dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) fora dos grandes centros populacionais, em zonas carenciadas ao nível da educação e formação cultural. “Agora vou voltar a Portugal para terminar a minha licenciatura em Gestão no Instituto Politécnico de Bragança e depois quero regressar ao meu país, que não visito há oito anos. Estou cá sem os meus familiares, mas as pessoas que me rodeiam dão carinho e conforto para poder sentir-me em casa”, referiu o atleta.
Natural de Catió, capital da região de Tombali, Braima Dabó intensificou o gosto pelo atletismo em 2014 e desloca-se aos fins-de-semana à Maia para treinar sob orientação de José Regalo, que já foi um dos melhores corredores lusos de 5.000 metros, movido pelo “sonho” de “ter uma marca” que abra a porta dos Jogos Olímpicos.
Editado 9h00, 28/09/2019: Acrescentadas as declarações de Barima Dabó à agência Lusa