Facebook compra startup que desenvolve uma pulseira para escrever mensagens com a mente
A CTRL-Labs está a desenvolver uma pulseira para controlar o computador ao detectar e descodificar impulsos enviados pelo cérebro. É uma ambição do fundador de Mark Zuckerberg.
O Facebook quer ajudar a criar um mundo em que as pessoas interagem com os aparelhos tecnológicos e navegam no mundo digital de forma mais natural – por exemplo, através da mente. Esta semana, a empresa anunciou a compra da CTRL-Labs, uma startup norte-americana que desenvolve dispositivos capazes de recolher sinais eléctricos do cérebro e de os transmitir para um computador. Vai integrar o Facebook Reality Labs, um laboratório dedicado a desenvolver soluções de realidade virtual e aumentada que foi criado após a compra da fabricante de óculos de realidade virtual Oculus Rift, em 2014.
Criada em 2015 por dois doutorados em neurociências da reputada Universidade de Columbia, nos EUA, a CTRL-Labs tem como missão eliminar percalços do quotidiano na interacção com as máquinas. Exemplos são erros ortográficos causados por dedos que deslizam sobre as teclas erradas do ecrã virtual do telemóvel e a botões presos que nos impedem de ligar aparelhos. Os investidores incluem a Amazon e a Google Ventures, o departamento de capital de risco da Alphabet, que é a empresa-mãe do Google.
Nos últimos quatro anos, a startup, com sede em Nova Iorque, tem-se dedicado ao desenvolvimento de numa pulseira que detecta sinais que o cérebro envia às mãos (por exemplo, microcontracções nas fibras musculares do braço quando este se vai mexer), e descodifica-os. A longo prazo, pode ser utilizada para ligar ou desligar um computador, à distância, com o pensamento.
É uma ambição do fundador do Facebook, Mark Zuckerberg. “Estamos a trabalhar num sistema que vos deixará escrever directamente a partir do cérebro cerca de cinco vezes mais rápido do que conseguem escrever hoje no telemóvel”, disse há dois anos, durante a conferência anual da empresa para falar sobre novos projectos. A compra da CTRL-Labs, este mês, é mais um passo nessa direcção.
“Vão juntar-se à nossa equipa no Facebook Reality Labs, onde esperamos construir este tipo de tecnologia, em escala, e levá-la aos produtos para o consumidor mais rapidamente”, explicou o responsável pelo laboratório, Andrew Bowsworth, numa publicação sobre a aquisição recente.
O acordo chega numa altura em que o Facebook – e outras gigantes tecnológicas como o Google e a Amazon – estão a ser investigados por práticas anticoncorrencias nos EUA. Em causa está a possibilidade de estas empresas limitarem concorrência nos segmentos onde são líderes de mercado. Com a compra da CTRL-Labs, o Facebook continua o padrão de absorver empresas emergentes em novas áreas, o que é um dos pontos que a Comissão Federal do Comércio dos EUA (FTC, na sigla inglesa) está a escrutinar.
Em declarações a órgãos da imprensa internacional, como a Bloomberg e a CNBC, fontes próximas do Facebook dizem que a recente aquisição representou um investimento de pelo menos 500 milhões de dólares. A rede social não confirma o valor, mas Bowsworth nota que continuar a desenvolver a pulseira da CTRL-Labs é um dos primeiros objectivos.
“[A pulseira] capta a intenção, permitindo partilhar uma fotografia com um amigo através de um movimento imperceptível ou apenas através da intenção de o fazer”, explica o responsável pelo laboratório do Facebook, que diz que a pulseira deve funcionar ao descodificar os sinais eléctricos enviados pelos neurónios na coluna vertebral dos utilizadores. Para Bowsworth a tecnologia tem o potencial de “voltar a imaginar invenções do século XIX” – como o telefone – “para um mundo do século XXI”. Outras aplicações incluem ajudar pessoas que perderam a fala devido a lesões ou doenças neurológicas – outra uma área em que o Facebook tem vindo a mostrar interesse.
Em 2017, o Facebook reuniu uma equipa de 60 pessoas para começar a desenvolver tecnologia para interpretar a intenção dos utilizadores. Em Julho de 2019, um artigo académico da Universidade de Califórnia, em São Francisco, publicado na revista académica Nature, detalhou uma investigação financiada pelo Facebook para criar uma máquina capaz de descodificar actividade cerebral, associando-a a palavras e frases. O trabalho passou por acompanhar três doentes de epilepsia voluntários – que já tinham eléctrodos implantados no cérebro – para perceber como se podem converter registos de actividade cerebral em palavras. Embora mostrasse algum sucesso, a máquina ainda falhava em descodificar perto de 40% das respostas a perguntas, pré-programadas, de escolha múltipla. Com o desenvolvimento de produtos com a pulseira da CTRL-Labs, a rede social aposta num método não-invasivo de fazer o mesmo – embora o futuro anunciado há dois anos por Mark Zuckerberg ainda pareça distante.