Portuguesa Unbabel consegue 60 milhões de dólares junto de investidores
O novo capital será usado para acelerar a expansão da empresa a nível internacional e continuar a desenvolver as ferramentas de inteligência artificial.
A startup portuguesa Unbabel – uma plataforma de tradução automática que recorre a humanos para verificar o conteúdo traduzido – conseguiu mais 60 milhões de dólares (cerca de 54,5 milhões de euros) em financiamento. É quase o triplo do valor obtido junto de investidores internacionais em 2018.
A ronda de financiamento foi liderada pela empresa de capital de risco Point72 Ventures (fundada em 2016 pelo multimilionário norte-americano Steven Cohen), em conjunto com a empresa portuguesa de capital de risco Indico Capital Partners (que no começo do ano anunciou um novo fundo para investir em startups tecnológicas da Península Ibérica), e as norte-americanas e.ventures e Greycroft. A ronda contou ainda com a participação dos actuais investidores da Unbabel, como a Scale Venture Partners, Notion Capital, M12 (fundo de venture capital da Microsoft), Samsung NEXT, Caixa Capital (da Caixa Geral de Depósitos), Faber Ventures, FundersClub e Structure Capital.
O mais recente financiamento, divulgado esta terça-feira, teve lugar durante uma ronda de série C que é uma etapa em que uma startup já provou ter sucesso no mercado e está à procura de desenvolver novos produtos e serviços. Em 2013 e 2017, as startups portuguesas Farfetch (plataforma de venda online de moda de luxo) e Feedzai (que detecta fraudes no processamento de pagamentos electrónicos) conseguiram 20 milhões de dólares e 50 milhões de dólares, respectivamente, neste tipo de rondas. No total, a empresa fundada pelo português Vasco Pedro já angariou um total de 91 milhões de dólares em investimento.
Fundada em 2013, a Unbabel permite que tradutores amadores possam utilizar os seus conhecimentos em línguas para ganhar algum dinheiro extra ao rever conteúdos de tradução automática e, desta forma, evitar traduções mal feitas por máquinas incapazes de perceber contextos ou referências culturais. O objectivo é ser uma alternativa mais rápida – e económica – do que contratar um tradutor profissional. Mais de 50 mil utilizadores globais registados na plataforma relêem trechos de textos traduzidos na sua língua nativa, e são remunerados (entre oito a 18 dólares por hora) pelo tempo despendido. Depois de o texto passar por um Unbabler (nome dado aos correctores humanos), passa a integrar a base de dados para que as máquinas possam aprender com a revisão.
O co-fundador e presidente executivo da Unbabel, Vasco Pedro, que descreve frequentemente a empresa como “uma simbiose entre humano e máquina", explica que o novo capital será usado para acelerar a expansão da empresa a nível internacional e continuar a desenvolver as ferramentas de inteligência artificial da empresa. A empresa portuguesa já integra clientes como a Microsoft, o Facebook, a TomTom, a companhia área Easyjet e o site de reservas Booking.com.
“Estamos a traduzir mais de um milhão de mensagens de apoio ao cliente por mês. Este valor é cinco vezes superior ao volume que registámos em 2018, o que demonstra a procura mundial por um serviço ao cliente multilingue ágil”, salientou Vasco Pedro, em comunicado.
Parte do dinheiro será também investido no desenvolvimento do novo laboratório de pesquisa da empresa, em Pittsburgh, nos EUA. Em 2017, a empresa começou a actualizar o seu sistema de tradução automático para trabalhar com os novos sistemas de redes neuronais. Tratam-se de sistemas artificiais inspirados no cérebro humano, que conseguem analisar o contexto das frases e escolher a tradução mais adequada após estudar extensas bases de dados de materiais traduzidos.
“Fomos inspirados pela visão da Unbabel fornecer traduções de nível empresarial apenas com o clique de um botão e impressionados com a tecnologia de tradução com interacção humana”, justificou Sri Chandrasekar, da Point72 Ventures, em comunicado. Já em 2018, o director da Samsung NEXT, que também investiu na Unbabel em 2018, explica que a empresa foi atraída pela capacidade da startup para derrubar barreiras geográficas a um preço reduzido. “A sua capacidade de baixar cada vez mais o preço por palavra possibilita uma comunicação sem fronteiras”, disse Nick Nigam, da Samsung.
As ferramentas de tradução automática fazem parte de um mercado em crescimento, potenciado pela necessidade de cada vez mais negócios e empresas interagirem com trabalhadores e clientes em diferentes regiões. O Google, a IBM, e a Microsoft são algumas das empresas a investir na área.