Contra o “socialismo” e “colonialismo”, Bolsonaro apresentou o “novo Brasil” na ONU

Presidente brasileiro disse que é “uma falácia dizer que a Amazónia é património da humanidade”. Trump lançou críticas aos “globalistas” e elogiou os “patriotas”.

Jair Bolsonaro foi o primeiro a discursar na Assembleia-Geral da ONU
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Jair Bolsonaro condenou os “ataques sensacionalistas” dos media por causa dos incêndios na Amazónia JUSTIN LANE / EPA
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“O futuro não pertence aos globalistas, mas sim aos patriotas”, disse Donald Trump Carlo Allegri/REUTERS

Na sua estreia no tradicional discurso de abertura da 74.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, escolheu apresentar ao mundo um “novo Brasil” que se baseia sobretudo em inimigos internos e externos e na defesa de valores conservadores e religiosos. Grande parte da sua intervenção foi reservada para negar que a floresta amazónica esteja em risco e para atacar a imprensa, os governos anteriores e alguns líderes estrangeiros.

O discurso de Bolsonaro – que ao contrário do que acontecia com os seus antecessores não foi distribuído previamente à imprensa, segundo a BBC Brasil – tocou em praticamente todos os temas que têm ocupado as suas intervenções públicas desde que foi eleito. Não faltaram referências a Deus, à família, nem sequer o já célebre versículo bíblico citado em todos os discursos – “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” –, bem como ataques aos governos do Partido dos Trabalhadores (PT), ao “socialismo”, à Venezuela e a Cuba, à imprensa e ao “politicamente correcto”. A estes pontos já conhecidos, o Presidente brasileiro juntou uma defesa acérrima da soberania sobre a Amazónia e vários recados para outras capitais.

“A nossa Amazónia é maior que toda a Europa Ocidental e permanece praticamente intocada”, declarou Bolsonaro, apesar dos estudos que apontam para a perda de quase 20% da área florestal nas últimas décadas. Os incêndios que deflagraram nos meses anteriores e que fizeram soar os alarmes da comunidade internacional ficaram a dever-se aos “ventos e clima seco” da época do ano, embora Bolsonaro não tenha descartado a criminalidade, acrescentando uma observação controversa: “Vale ressaltar que existem também queimadas praticadas por índios e populações locais, como parte de sua respectiva cultura e forma de sobrevivência.”

Bolsonaro condenou os “ataques sensacionalistas” feitos por “grande parte dos media internacionais” a propósito dos incêndios na Amazónia e rejeitou qualquer tentativa de pôr em causa a soberania brasileira sobre aquele território. “É uma falácia dizer que a Amazónia é património da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo”, afirmou.

Sem mencionar nenhum nome em concreto, Bolsonaro acusou “um ou outro país” que, “em vez de ajudar, embarcou nas mentiras dos media e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista”. O ataque era dirigido ao Presidente francês, Emmanuel Macron, que criticou duramente o Governo brasileiro por causa dos incêndios florestais na Amazónia.

No seu primeiro discurso como Presidente na ONU, Bolsonaro escolheu como missão apresentar “um novo Brasil, que ressurge depois de estar à beira do socialismo”. A colagem dos governos do PT à extrema-esquerda é um tema recorrente nas intervenções de Bolsonaro, mesmo antes de ser eleito, que apresentava o Brasil como estando próximo de seguir o exemplo da Venezuela, outro dos alvos do líder brasileiro. “A Venezuela, outrora um país pujante e democrático, hoje experimenta a crueldade do socialismo”, declarou Bolsonaro.

Ode aos “patriotas"

Foi igualmente com críticas ao socialismo e uma defesa dos “patriotas” que o Presidente dos EUA, Donald Trump, subiu à tribuna da Assembleia-Geral da ONU, após Bolsonaro. À semelhança do Brasil, também os EUA embarcaram num “programa de renovação nacional”, disse Trump, que escolheu como alvos do seu discurso a China, o Irão, a Venezuela, e também o “socialismo”.

“O futuro não pertence aos globalistas, mas sim aos patriotas”, declarou o Presidente dos EUA, para depois tecer críticas ao sistema multilateral de comércio e aos “activistas das fronteiras abertas”. “Põem o vosso falso sentimento de justiça à frente da vida de pessoas inocentes”, acusou Trump, referindo-se aos críticos das suas políticas de endurecimento das políticas migratórias.

O principal alvo do seu discurso foi a China, com quem Washington trava uma guerra comercial que já levou à escalada de taxas aduaneiras a produtos dos dois países. Trump acusou Pequim de várias infracções, como manipulação cambial e roubo de propriedade intelectual, e pediu “mudanças drásticas” na Organização Mundial do Comércio.

O Irão foi caracterizado pelo Presidente norte-americano como “um regime opressor” que acusou de ser “o maior apoiante de terrorismo” no mundo. “Enquanto o comportamento ameaçador do Irão continuar, as sanções vão permanecer”, garantiu Trump.

O Presidente dos EUA reservou ainda palavras duras para o líder venezuelano, Nicolás Maduro, a quem chamou de “fantoche cubano, que se esconde do próprio povo, enquanto Cuba explora os seus recursos naturais”.

Poucos minutos depois de ambos discursarem, Bolsonaro publicou na sua conta de Twitter um curto vídeo em que Trump o cumprimenta, selando um entendimento entre os dois líderes que recusam o “globalismo”. “Obrigado pela consideração, Presidente Trump”, escreveu o líder brasileiro.

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