Jorge Amado e a abertura para o erro
A história da vida de Jorge Amado é também a história da sua construção enquanto escritor segundo o retrato traçado em Jorge Amado: Uma Biografia. A política, o desprezo pelas elites, os amores, a fé, a relação com Portugal e como o escritor se consumou depois de se ter afastado do partido comunista, numa conversa com Josélia Aguiar, a biógrafa que escolheu apagar-se nesta história.
Em 1962, Jorge Amado responde às perguntas de um jornalista sobre como é a sua literatura quando completa cinquenta anos de idade. “Continuidade daquela que fazia aos dezoito”. Se vale a pena ser escritor? “A meu ver, vale a pena. Se nasceu para escrever, se não o fizer será infeliz”. Mais à frente, o mesmo jornalista pergunta-lhe qual é a sua qualidade mais paradoxal. “Muita gente pensa que sou alegre, mas eu sou um homem triste pra burro.” Nessa altura já tinha publicado 19 livros, era o autor brasileiro mais traduzido e fazia parte da Academia Brasileira de Letras. Há muito tempo que deixara de ser o autor consensual dos primeiros livros. Em 1944, ano em que lançou São Jorge de Ilhéus, falava a outro jornalista sobre o modo dividido como a crítica o olhava. Imagine você se ao fim de dez livros e de tão longo período de vida pública eu constatasse ser um homem unanimemente elogiado. Que desgraça! Felizmente, sou muito elogiado por uns, violentamente atacado por outros.” E pedia ao repórter que elencasse as “acusações” que pendiam contra ele. “Escritor político”, disse o jornalista. “É claro. Apenas pergunto qual o escritor que não é político? Atrás da máscara da arte há o reaccionário mais hábil.”
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