Dave vence prémio Mercury da música britânica com Psychodrama
O rapper de 21 anos foi distinguido numa cerimónia marcada pelas tomadas de posição políticas de vários músicos. Os Foals abordaram as questões climáticas, Anna Calvi condenou a desigualdade de géneros e os Idles a masculinidade tóxica. Slowthai, um dos favoritos, surgiu em cena simulando carregar a cabeça decapitada de Boris Johnson.
O rapper Dave é o vencedor do prémio Mercury da música britânica pelo seu álbum de estreia, Psychodrama, disco com uma linha narrativa sobre uma suposta sessão de psicoterapia em que se avaliam consequências do racismo e da pobreza. Dave, de 21 anos, aborda o impacto das condições de vida na saúde mental das minorias étnicas e da classe trabalhadora, no Reino Unido, enquadrado por situações que vão de relações amorosas ao sistema prisional.
Na cerimónia de anúncio do vencedor, realizada na noite de quinta-feira, em Londres, a DJ Annie Mac, membro do júri, defendeu que o álbum de Dave, nascido na capital britânica, de pais nigerianos, “demonstra o grande nível da sua capacidade musical, do seu talento artístico”, assim como a sua “coragem e honestidade”. Dave interpretou Psycho na sala do Eventim Apollo Hammersmith, onde decorreu a cerimónia, e agradeceu à mãe e ao irmão Christopher, preso em 2013, que inspirou o álbum. “É a tua história”, disse Dave, que chamou a sua mãe a palco durante o discurso de agradecimento.
“Ser negro é bem mais profundo do que ser afro-americano”, canta Dave em Black, de Psychodrama. O músico alcançou o reconhecimento internacional em 2016, quando o canadiano Drake utilizou um excerto do seu tema Wanna know. Desde então Dave publicou vários singles, datando deste ano o seu primeiro álbum.
Arctic Monkeys, Antony and the Johnsons, Franz Ferdinand, PJ Harvey, Pulp e Suede estão entre os anteriores distinguidos com o Prémio Mercuruy. O prémio, estabelecido em 1992 como alternativa aos Brit Awards, visa a eleição do melhor álbum publicado no Reino Unido ou na Irlanda, nos 12 meses anteriores, e é acompanhado de uma recompensa de 25 mil libras (cerca de 28 mil euros). A cerimónia, realizada em Londres na noite de quinta-feira, manteve o carácter político, com os Foals a abordarem as alterações climáticas, Anna Calvi a condenar a desigualdade de géneros e os Idles a “masculinidade tóxica” que leva os homens “a beber e não a chorar”.
O Brexit e Boris Johnson estiveram na base da intervenção do rapper Slowthai, que partia como um dos favoritos pelo seu álbum Nothing Great about Britain. Slowthai surgiu em cena com uma máscara de plástico que simulava a cabeça decapitada do primeiro-ministro britânico, fez do seu álbum palavra de ordem e obteve a uma das maiores ovações do público quando gritou: “Que se foda Boris Johnson!”.