Eleições em Israel: Bloco de Netanyahu sem maioria segundo sondagens à boca das urnas
Partido do primeiro-ministro praticamente empatado com o seu principal rival, Benny Gantz, tal como nas eleições de Abril.
As sondagens à boca das urnas de três televisões israelitas mostram que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pode não conseguir, com os seus aliados ultra-ortodoxos, uma maioria para formar uma coligação de governo.
As sondagens à boca das urnas não são muito fiáveis em Israel e vários analistas sublinharam que já erraram no passado. Se estiverem certas, Netanyahu, do Likud (direita), e os partidos ultra-ortodoxos ficam entre quatro a sete deputados aquém da maioria.
Depois do aparente empate técnico, o actual primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, pediu nesta quarta-feira um “forte Governo sionista”, enquanto o líder da oposição, Benny Gantz, apelou à formação de um “governo de unidade” – os resultados oficiais só deverão ser conhecidos na manhã desta quarta-feira.
Mas segundo as mesmas sondagens, o maior rival de Netanyahu, Benny Gantz, do partido Azul e Branco, também não tem os deputados suficientes para uma maioria.
Como resumiu o jornalista Udi Segal: “Netanyahu perdeu, mas Gantz não ganhou”. O biógrafo de Netanyahu Anshel Pfeffer escreveu no diário liberal Haaretz que o que quer que aconteça agora, a noite eleitoral marcou “o fim do feitiço” de Netanyahu, conhecido como “o mágico” em Israel.
Com base nestas sondagens, são possíveis quatro coligações: uma entre o Likud e o partido nacionalista de direita secular Yisrael Beitenu (Israel Nossa Casa), de Avigdor Lieberman (antigo aliado de Netanyahu); uma entre o partido Azul e Branco e o Israel Nossa Casa; uma aliança entre os dois partidos mais votados (uma espécie de bloco central); ou um “governo de unidade” com todos estes partidos: Likud, Azul e branco, e Israel Nossa Casa, a hipótese que Lieberman disse preferir.
No caso de um bloco central (Likud/Azul e Branco), a diferença entre os dois mais votados será relevante. Segundo as sondagens à boca das urnas, Gantz tem uma vantagem mínima sobre Netanyahu, um deputado numa das sondagens e três noutra: uma diferença tão pequena que é demasiado arriscado declarar quem é o vencedor.
Nas eleições anteriores, em Abril, Gantz foi rápido a declarar vitória, mas passadas algumas horas (já passava da meia-noite em Israel), Netanyahu fez o mesmo.
Num sistema em que conta mais quem pode reunir uma maioria do que quem tem mais votos, em Abril acabou por ser Netanyahu o político que reuniu mais indicações dos partidos para tentar formar uma coligação de Governo e o Presidente, Reuven Rivlin, passou-lhe a tarefa. Netanyahu não conseguiu, no entanto, convencer Lieberman a entrar na coligação. Para não deixar a Gantz a hipótese de tentar, Netanyahu optou por propor a dissolução do Parlamento, o que levou às eleições desta terça-feira.
A tarde eleitoral foi frenética. Benjamin Netanyahu “ainda está a fazer vídeos ao vivo no Facebook a telefonar a eleitores como se estivesse ao telefone com Khrushchev a tentar resolver a crise dos mísseis de Cuba”, escreveu no Twitter Gregg Carlstrom, correspondente da revista britânica The Economist – a comparação com uma altura em que EUA e a URSS pareciam estar à beira de uma guerra nuclear.
O ritmo acelerado e a dramatização marcaram o dia, assim como a quebra de regras: o primeiro-ministro deu duas entrevistas, e o Facebook suspendeu durante algumas horas o serviço de mensagens automáticas da sua página oficial por esta a dada altura divulgar uma sondagem, o que não é permitido.
Os candidatados, nota Anshel Pfeffer do diário Ha’aretz, seguiram a estratégia de Bibi (a alcunha de Netanyahu): dramatizaram a possibilidade de perder para tentar levar eleitores que pudessem votar no seu partido às urnas.
Membros do partido de Netanyahu, conta também Pfeffer, estavam a partilhar imagens de filas de eleitores turcos nas eleições para a câmara de Istambul como se fossem de árabes israelitas à espera para votar em Israel. O voto árabe era visto como um dos factores potencialmente decisivos para impedir uma maioria de Netanyahu e dos seus potenciais aliados.
A eleição é vista como decisiva para a carreira de Netanyahu, que bateu no Verão o recorde de primeiro-ministro há mais tempo no cargo (embora não de seguida) – mais do que o fundador do Estado hebraico, David Ben-Gurion: 4876 dias, ou ligeiramente mais do que 13 anos.
Netanyahu joga a sua carreira nestas eleições e o resultado pode ter ressonância no processo por corrupção que o procurador-geral se prepara para abrir contra ele – este já anunciou que vai ouvir Netanyahu numa audiência pré-acusação. A data-limite para o Presidente encarregar um candidato de formar Governo é dia 2 de Outubro. Para esse mesmo dia, nota o diário Jerusalem Post, está marcada a audiência de Netanyahu na procuradoria-geral.