Defender a Agricultura, defender Portugal

Os portugueses merecem saber que as condições e regras de produção não são as mesmas, os portugueses merecem saber que o sector pecuário nacional é moderno.

Vivemos hoje tempos em que muitos têm opiniões sobre quase tudo mas sabem quase nada. Um “conhecimento” que não é científico nem alicerçado na experiência do saber fazer, mas sim um conhecimento de “ouvir dizer”, ou de “pesquisar algures na net”! Este tipo de certezas quase dogmáticas leva a que alguns lóbis aproveitem e proliferem as suas mensagens e interesses baseados na ignorância e desconhecimento da maioria. Este fenómeno acontece de forma ainda mais vincada quando a perspectiva é de quem olha sobre o mundo rural e a sua forma de vida.

Quando falamos em mundo rural, falamos em 80% do território nacional. Um território onde a principal actividade, nas áreas mais remotas, continua a ser a agricultura, que por sua vez alavanca também um conjunto de outras actividades cada vez mais importantes para economia nacional como o turismo.

A agricultura nacional, incluindo o sector florestal, representa 5% do PIB nacional e contribuiu com 13% das exportações portuguesas.

A agricultura é a arte de produzir alimentos para a sociedade, ocupando o território e fixando pessoas, que, através da sua actividade agrícola, mantêm os territórios limpos e ordenados, contribuindo para a manutenção da fauna e flora autóctones. Esta forma de estar e de produzir já levou a que algumas zonas do território fossem distinguidas a nível nacional. São exemplo disso o Douro Vinhateiro e o Barroso, que foi recentemente distinguido pela FAO, ou o Parque Nacional da Peneda-Gerês, classificado como reserva da biosfera pela UNESCO.

Nos últimos tempos, algumas vozes que alimentam as tendências ditas mais modernas tentam minimizar a importância do sector agrícola, em particular da actividade pecuária, refugiando-se no tema das alterações climáticas.

É importante que se diga que agricultura é o único sector que já contribuiu para a descarbonização da sociedade, e nessa medida deve ser ressarcido desse contributo de que todos já usufruem. A actividade agropecuária deve ser analisada avaliando sempre o contexto social, económico e paisagístico onde se insere, contabilizando os milhares de hectares que são limpos, ordenados e cultivados, funcionando como sumidouros naturais de carbono e gerando um saldo ambiental positivo e sustentável para o país.

É importante que o país saiba que o sector e as suas organizações são responsáveis e não fogem a este debate. Aliás, estamos muito interessados em ser envolvidos, pois consideramos que somos parte da solução. Portugal é deficitário em carne, e nesse sentido deve apostar em equilibrar a sua balança comercial através do aumento da sua produção nacional. A pecuária nacional é hoje uma actividade que utiliza as mais modernas técnicas de arraçoamento e onde a tecnologia é uma realidade.

Portugal deve fomentar os princípios da economia circular e valorizar os efluentes pecuários na fertilização dos solos em detrimento do uso de fertilizantes sintéticos.

A pecuária nacional é responsável e sustentável. Importa que haja a coragem de definir regras onde as cantinas públicas possam comprar produtos agrícolas locais, onde a variável distância do produto onde é produzido e consumido seja tida em consideração. Qual é a mãe, pai ou director escolar que não quer comprar os alimentos mais seguros para as suas crianças?

É com este tipo de medidas que iremos conseguir reduzir a nossa pegada carbónica, ao contrário do que nos tentam vender dizendo que a carne importada até é mais barata… e onde os custos ambientais já não são tidos em conta, como é o exemplo do recente acordo da UE com o Mercosul. A Fenapecuária é literalmente contra este acordo, considera mesmo que é um acordo desleal para com o sector e solicita a todos os partidos políticos que reflictam bem sobre o que está em causa.

Os portugueses merecem saber que as condições e regras de produção não são as mesmas, os portugueses merecem saber que o sector pecuário nacional é moderno, respeita as regras ambientais, cumpre com o bem-estar animal, fixa pessoas ao território, gera riqueza para o país de forma directa e indirecta, e pode fazer ainda mais, assim hajam condições e vontade politica de deixar fazer.

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