Saied e Karoui, dois candidatos sem experiência política, na frente da primeira volta das presidenciais
O empresário Nabil Karoui, actualmente a cumprir pena de prisão, e o académico Kaïs Saïed vão disputar a segunda volta das presidenciais em Novembro. Abstenção foi muito elevada.
O académico conservador independente Kais Saied lidera a primeira volta das eleições presidenciais na Tunísia, com 19% dos votos, segundo resultados preliminares anunciados esta segunda-feira pela comissão eleitoral.
Segundo estes resultados baseados na contagem de um quarto dos votos, o empresário da comunicação social Nabil Karoui, actualmente em prisão preventiva por suspeitas de corrupção, está em segundo lugar com 14,9%. O candidato do partido de inspiração islamista Ennahda, Abdelfattah Mourou, tem 13,1%
As eleições realizaram-se no domingo e, segundo o chefe da equipa de observadores da União Europeia, Fábio Castaldo, decorreram com normalidade. A votação foi antecipada após a morte do Presidente Béji Caid Essebsi, em 25 de Julho.
A segunda volta está marcada para Outubro.
Numas eleições marcadas pela forte abstenção, a escolha dos tunisinos recaiu sobre dois candidatos sem percurso político. Nenhum deles pertence às duas grandes tendências que dominaram a política tunisina nos últimos anos, o que reflecte o descontentamento da população.
Com mais de duas dezenas de candidatos, havia uma forte expectativa de que nenhum conseguisse votos suficientes para ser eleito logo à primeira volta. Saïed alcançou 19,5% dos votos e Karoui 15,5%, ambos seguidos pelo candidato apoiado pelos islamitas do Ennahda, Abdelfattah Mourou, com 11%, segundo as projecções do Sigma Conseil, citadas pelo Guardian.
Os resultados oficiais não devem ser conhecidos antes de terça-feira, mas as campanhas dos dois candidatos mais votados já reclamaram a vitória.
Saïed declarou que os resultados são “um novo passo na história tunisina, como uma nova revolução”. “A minha vitória traz a grande responsabilidade de transformar a frustração em esperança”, afirmou o professor de Direito.
“Hoje, os tunisinos falaram e mostraram querer uma mudança no sistema de poder, temos de respeitar a vontade do povo”, disse o porta-voz da campanha de Karoui, Hatem Mliki.
As presidenciais deste ano – que acontecem na sequência da morte do ex-Presidente Béji Caïd Essebsi, no final de Julho – eram vistas como um teste ao regime democrático. A Tunísia é o único caso bem-sucedido de uma transição democrática durante a onda da Primavera Árabe, em 2011, quando o ditador Zine El Abidine Bem Ali foi deposto.
Uma combinação entre crise económica, ataques terroristas e instabilidade política tem, porém, descredibilizado a classe política. Prova disso foi a elevada abstenção, superior a 65%, segundo a Al-Jazira.