Rebeldes houthi atingem instalações petrolíferas sauditas; EUA acusam Irão
Ataque pode afectar produção mundial de petróleo. Riade nega impacte.
Os rebeldes houthi do Iémen usaram dez drones armadilhados para atacar, na madrugada deste sábado, duas instalações petrolíferas na Arábia Saudita. É o terceiro ataque do género contra instalações petrolíferas sauditas em cinco meses, em retaliação pela intervenção deste país no Iémen. Washington aponta o dedo ao Irão.
A televisão dos houthi, a Almasirah, reivindicou “uma operação de envergadura contra refinarias em Abqaiq e Khurais”. O ataque foi confirmado pelo Governo saudita, sublinhando que os incêndios “foram apagados” pouco depois dos ataques.
O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, responsabilizou directamente o Irão, que apoia os rebeldes, pelo ataque, acusando Teerão de “fazer de conta” que está empenhado na diplomacia. “Entre todos os apelos para um desanuviamento, o Irão lançou agora um ataque inédito contra o fornecimento de energia do mundo”, afirmou Pompeo.
À semelhança de outros ataques, os rebeldes usaram dez veículos aéreos não tripulados que percorreram cerca de mil quilómetros até atingirem os alvos. Este ataque é significativo por mostrar que os houthis estão a desenvolver um cada vez maior poder aéreo, com Riade a mostrar-se incapaz de interceptar drones e mísseis em ataques de longas distâncias, diz o Jerusalem Post.
E os houthi prometeram ataques “maiores e mais abrangentes” se a Arábia Saudita continuar com os bombardeamentos aéreos no Iémen, segundo a televisão iemenita Almasirah.
Os alvos escolhidos também mostram qual é o objectivo estratégico dos rebeldes: perturbar a produção mundial de petróleo, pressionando Riade onde mais lhe dói. A instalação em Abqaiq é a “maior instalação de estabilização [processo de transformação] de petróleo do mundo”, segundo a descrição da petrolífera estatal no seu site, enquanto a de Khurais alberga mais de 20 mil milhões de barris de petróleo.
No entanto, a notícia do ataque não teve impacto no preço do petróleo por os mercados estarem fechados durante o fim-de-semana. Na sexta-feira, o barril de crude estava a ser negociado nas praças a pouco mais de 60 dólares.
“Não houve feridos nem interrupções nas operações petrolíferas da Aramco”, disse a empresa, citada pela Al Jazira. Mas as garantias da petrolífera estão a ser contestadas. “Não sabemos o quanto a instalação ficou danificada, mas o ataque vai reduzir a produção petrolífera saudita para uma fracção do que era até agora. Também terá um impacto na produção mundial”, explicou Osama Bin Javaid, correspondente da Al Jazira e autor do documentário Saudi Aramco: The Company and the State. Além disso, a petrolífera prepara-se para, “num futuro próximo”, lançar uma oferta de venda de acções na bolsa, segundo o director executivo da Aramco, Amin Nasser.
“Esta sabotagem terrorista segue-se a uma série de actos, incluindo ataques contra petroleiros, e têm como objectivo perturbar a cadeia de fornecimento internacional de petróleo”, disse o ministro da Energia saudita, Khalid al-Falih.
Há muito que os rebeldes houthis, apoiados pelo Irão, levam a cabo ataques contra soldados e instalações sauditas, entre elas aeroportos, em retaliação pela intervenção de Riade na guerra civil do Iémen. “Temos o direito de retaliar pelos ataques aéreos que têm feito nos últimos cinco anos contra alvos nossos”, disse o porta-voz militar dos houthis, segundo a Almasirah.
Em 2015, os houthis depuseram o Presidente Abdu Mansour Hadi, e tentaram expulsar do país as forças leais ao antigo chefe de Estado Ali Abdullah Saleh, afastado em 2011 na sequência da Primavera Árabe. Insatisfeita com a crescente influência iraniana, a Arábia Saudita formou uma coligação internacional liderada por si e começou a intervir no conflito a partir de 2015, acusando Teerão de fornecer drones e mísseis aos rebeldes.
O conflito no Iémen é mais um tabuleiro de xadrez na disputa pela hegemonia regional entre a Arábia Saudita e o Irão, inimigos desde a Revolução Iraniana de 1979, que depôs o xá Mohammad Reza Pahlevi e instaurou a República Islâmica.
As Nações Unidas mediaram negociações de paz, mas a violência tem dificultado os seus esforços. Riade continua os ataques aéreos, muitos dos quais tendo como alvos áreas civis, e os houthis retaliam.
A guerra civil já causou directamente a morte a mais de sete mil civis, com outros 11 mil feridos. Cerca de 65% das mortes foram atribuídas a bombardeamentos da coligação, segundo a ONU. E mais de 20 milhões de civis têm sofrido com o bloqueio marítimo saudita, havendo pessoas a morrer de fome e de doenças como a cólera, uma vez que alimentos e medicamentos escasseiam no país.