Google dá mais destaque a jornalismo original e de qualidade

“O jornalismo original, de profundidade e de investigação requer um nível elevado de competências, tempo e esforço”, considera a empresa, que tem uma relação conturbada com a imprensa.

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Jornalistas nos EUA. É fácil encontrar online dezenas de versões da mesma história Jonathan Bachman/Reuters

O Google passou a dar mais visibilidade ao jornalismo de qualidade, tendo feito alterações no motor de busca para destacar trabalhos jornalísticos originais.

O fenómeno da multiplicação de notícias é bem conhecido de quem pesquisa assuntos recentes: qualquer que seja o tema, é fácil encontrar dezenas, ou centenas, de notícias semelhantes. Mesmo as notícias, reportagens e entrevistas que são trabalhos originais acabam rapidamente por serem replicadas em muitas publicações – por vezes com links para as peças originais, outras vezes, sem eles.

Com as mudanças agora anunciadas, o Google passará a deixar as peças originais durante mais tempo em locais de destaque no motor de busca. A empresa também fez ajustes nas orientações que dá aos trabalhadores que classificam os conteúdos que o motor de busca indexa. Estes deverão atribuir pontuações mais elevadas a jornalismo original, de qualidade e vindo de um órgão com boa reputação.

O Google diz ter dez mil pessoas em todo o mundo a classificar conteúdo, guiando-se por orientações que fazem parte de um documento público. As classificações que estes trabalhadores atribuem não determinam directamente a posição de uma página no ranking usado pelo Google para mostrar resultados de pesquisas. Mas são tidas em conta pelos algoritmos.

Aqueles trabalhadores estão agora instruídos para atribuírem a pontuação máxima a conteúdo jornalístico que “disponibilize informação que não seria conhecida se o artigo não a revelasse”. O documento acrescenta que “o jornalismo original, de profundidade e de investigação requer um nível elevado de competências, tempo e esforço”.

“Isto significa que os leitores interessados nas últimas notícias conseguem encontrar a história que deu origem a tudo, e que as publicações podem beneficiar de terem os seus trabalhos originais a serem mais vistos”, explicou o vice-presidente do Google com o pelouro das notícias, Richard Gingras.

Gingras, contudo, reconheceu que pode ser difícil estabelecer a originalidade de uma peça jornalística: “Não há uma definição absoluta de jornalismo original, nem há um padrão absoluto para estabelecer quão original um artigo é. Isto pode significar coisas diferentes, em momentos diferentes, para diferentes redacções e publicações, por isso, os nossos esforços vão estar em evolução constante à medida que trabalhamos para perceber o ciclo de vida de uma história.”

Não é a primeira vez que o Google anuncia medidas para tentar beneficiar jornalismo de qualidade e já antes tinha passado a assinalar alguns artigos de fundo.

As relações entre o Google e a imprensa não têm sido as melhores ao longo dos anos. Na Europa, os editores de imprensa reivindicam há muito que a empresa lhes pague por agregar os conteúdos. O Google sempre se recusou a fazê-lo, argumentando que canaliza tráfego para os sites noticiosos, que o agregador Google News é um produto sem publicidade e que qualquer site pode optar por deixar de ser indexado.

A directiva de direitos de autor aprovada no Parlamento Europeu este ano veio abrir as portas a que a imprensa possa cobrar pela publicação de excertos de notícias – mas as novas regras, contra as quais o Google e outros gigantes tecnológicos lutaram, têm ainda de ser transpostas para as legislações nacionais.

O Google também criou um sistema para que os utilizadores façam assinaturas de sites noticiosos. Para além de ficar com parte das receitas, o Google diz que o objectivo é dar ferramentas para que as empresas de media percebam quanto podem cobrar, e fornecer um mecanismo de assinatura que seja rápido e simples para os utilizadores. Esta semana, o Observador passou a usar esta ferramenta.

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