Governo retira competências a comissário responsável na noite da morte de Steve Caniço
“As medidas tomadas pelo comissário careceram de discernimento”, disse o ministro do Interior francês. Morte de luso-descendente de 24 anos no final de Junho deu azo a um debate sobre a violência policial em França.
O ministro do Interior francês, Christophe Castaner, anunciou a transferência do comissário responsável pela operação policial que pode ter causado a morte do francês descendente de portugueses Steve Caniço, de 24 anos, na noite de 21 para 22 de Junho no rio Loire, em Nantes.
“O comissário da divisão responsável pelas operações não poderá mais desempenhar as suas funções e será transferido”, disse Castaner, acrescentando que houve “falta de discernimento” nas medidas tomadas pelo comissário, ainda que a “operação policial tenha sido legítima”. O ministro apresentou esta sexta-feira as conclusões do relatório da Inspecção-Geral da Administração.
Na noite de 21 de Junho, várias pessoas, entre elas Steve Caniço, participavam no Festival de Música de Nantes quando houve uma intervenção da polícia que usou bolas borracha (LBD-40), gás lacrimogéneo, bastonadas e cães-polícia. Os jovens fugiram e pelo menos 15 caíram ao Loire. Caniço não sabia nadar e afogou-se.
O seu corpo apareceu mais de um mês depois, a 29 de Julho, numa das margens do rio e a sua morte deu azo a um debate alargado na sociedade francesa sobre a actuação da polícia e o uso de força.
Um relatório preliminar da Inspecção-Geral da Polícia Nacional concluiu não ser possível estabelecer uma ligação com a morte do jovem, mas o executivo francês pediu-lhe que continuasse a investigar, nomeadamente as decisões do comandante.
Soube-se no início desta semana que o telemóvel de Steve Caniço foi usado pela última vez às 4h33, uma hora depois do inicialmente revelado pelas autoridades, segundo o Canard Enchaîné. A essa hora, a operação policial estava a decorrer, relacionando-a com a morte.
A família de Caniço sempre recusou a versão das autoridades e garantia que a operação policial tinha causado a morte do jovem. “Não posso falar sobre a investigação em curso, mas recordo o que digo desde o final de Julho: a queda de Steve no Loire é coincidente com a intervenção da polícia”, disse a advogada da família, Cécile de Oliveira, à AFP.
Em paralelo à investigação criminal sobre a morte do jovem, foi interposta nos tribunais uma queixa colectiva em nome de 85 participantes na festa. “[A intervenção] gerou o pânico que levou os jovens a correr sem saberem para onde iam, caindo ao Loire”, disse a advogada Marianne Rostan quando o corpo de Steve Caniço foi encontrado. Em causa estão acusações de “violência voluntária” e de as autoridades terem posto “em risco a vida de outras pessoas”.