Merkel retira do seu gabinete a pintura do antigo militante nazi Emil Nolde

As obras de um “expressionista nazi” penduradas na chancelaria, em Berlim, não vão voltar para as suas paredes para evitar polémica.

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FABRIZIO BENSCH / reuters
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"Brecher", do alemão Emil Nolde , deixará de figurar no gabinete de Angela Merkel dr/Hamburger Bahnhof

Angela Merkel tinha já expressado a predilecção que tem pelas obras de Emil Nolde (1867–1956), em especial por aquela, que por estar pendurada no seu gabinete, considera a sua favorita e da qual agora se despede. É Brecher (o que em português se aproxima de “Quebradoras”) o nome da tela onde foi imortalizada a rebentação de um mar verde sob o carregado céu inflamado pelo Sol poente; uma janela para as fortes ondas do Mar do Norte, separadas de Berlim por mais de 400 quilómetros de sólido continente. Foi talvez apenas isso que tornara Brecher a obra preferida de Merkel, pois o expressionista alemão Emil Nolde era também nazi militante e anti-semita.

Angela Merkel emprestou Brecher e Blumengarten in Alsen (em português, “Jardim de Flores em Alsen"), as duas obras de Nolde na posse da chancelaria, ao museu de arte contemporânea Hamburger Bahnhof para integrar a exposição Emil Nolde; a Lenda. O artista no Nacional-socialismo. A Fundação Ada e Emil Nolde, organização responsável por representar o legado do artista e da sua mulher, celebra a presença do artista entre os favoritos de Merkel nas paredes da chancelaria — a fundação é responsável por grande parte dos estudos mais recentes em Emil Nolde, apresentadas na exposição do Hamburger Bahnhof.

O artista terá fugido à justiça no final da Segunda Guerra Mundial sob a justificação de ter sido um artista degenerado; entre aqueles cuja arte o Terceiro Reich renegou. Assim é considerado pela historiografia da arte, ao lado de outros expressionistas alemães. A exposição de Nolde no Hamburger Bahnhof veio expor o paradoxo do artista: como ser um dos mais famosos entre os degenerados e pertencer ao partido Nazi. O crítico de Arte Adolf Behne referiu-se a Nolde como um “degenerado ‘degenerado’”.

Já quando a exposição estava para inaugurar, em Abril deste ano (termina este sábado), os especialistas previam a verdadeira natureza do artista como membro do partido. Felix Krämer, director geral do Museu Palácio de Arte de Düsseldorf expressou num programa de rádio: “É importante que os quadros estejam expostos nos museus e que nos façam ter consciência da nossa história. Mas imagino o que será receber chefes de Estado, às vezes até de países que a Alemanha arrasou, sob o quadro de um nazi convencido... não estou seguro de que fosse a melhor escolha”.

A chancelaria alemã anunciou agora que as obras de Emil Nolde não irão voltar às suas paredes, passando para a posse da colecção da Fundação da Herança Cultural Prussiana, a verdadeira proprietária das obras.

Um porta-voz da chancelaria declarou ao jornal El Español: “A chanceler chegou à conclusão que a parede, de momento, sem uma nova obra de Nolde, está bonita e deseja-a assim”.

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