O chafariz de São Paulo vai voltar a deitar água
Praça na zona do Cais do Sodré, onde não se vislumbra pinga de água há muitos anos, será de novo abrilhantada pelo chafariz oitocentista.
Quem se lembra de ver o chafariz da Praça de São Paulo a deitar água? As torneiras fecharam-se há tanto tempo que até nas entidades oficiais paira a dúvida sobre quando isso aconteceu. A Junta de Freguesia da Misericórdia assume a ignorância e mesmo a EPAL é cautelosa na resposta: “Embora a informação seja escassa, tudo aponta para que o chafariz de São Paulo tenha sido desactivado nos anos 80 do século XX”.
A imagem do obelisco seco, escuro e degradado deverá tornar-se em breve apenas uma má memória. É isso, pelo menos, que promete a junta, que está a fazer obras no monumento precisamente para que ele retome a sua função original. “O chafariz da Praça de São Paulo será restaurado e reactivado”, confirma Bianca Castro, chefe da Divisão de Espaço Público da Misericórdia.
A obra contempla “a limpeza e restauro dos elementos pétreos”, mas o caderno de encargos inclui também “a substituição do seu sistema hidráulico de modo a que a peça tenha função ornamental através dos sopros e também de abastecimento através de uma torneira”, explica a responsável da junta.
Desejado pela população de Lisboa logo depois do Terramoto de 1755, o chafariz só viria a ser construído quase um século mais tarde, em 1849. Reinaldo Manuel dos Santos, arquitecto que pontificou nessa época pombalina e projectou outros chafarizes na cidade, chegou a desenhar um para a Praça de São Paulo, mas esse não chegou a construir-se.
A complexidade do empreendimento transparece do resumo que consta no site do Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, gerido pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC): “O vigário da paróquia, em nome dos seus fregueses, enviou à princesa regente um pedido para a construção de um chafariz no local, necessário pelas muitas instituições, marítimos, Casa da Moeda e feira que se fazia no local; fez-se, então, um estudo para verificar a viabilidade da água poder vir do Chafariz da Esperança, o que não era viável, sendo a única solução a do Loreto, mas cuja condução era complicada, devido aos canos que existiam quer de chafarizes quer de particulares”.
Isto aconteceu em 1826. Daí até à efectiva construção do chafariz ainda foi preciso um abaixo-assinado, que finalmente convenceu a câmara municipal da necessidade da obra. Esta fez-se aproveitando o desenho de Reinaldo dos Santos “mas adaptando-o ao gosto moderno, com alterações introduzidas pelo arquitecto Malaquias Ferreira Leal”, diz aquele site. Mais tarde apareceria a inscrição “Marítimos” de um dos lados, indicando que daquela bica só podiam servir-se os homens do mar.
Sem pinga de água há anos, o chafariz tem sido alvo frequente de vandalismo, estando muitas vezes cheio de lixo ou grafitado. Os trabalhos “têm a duração estimada de 90 dias”, conclui Bianca Castro.