Dez espécies fascinantes de invertebrados marinhos em Portugal

Flutuando no mar ao sabor das correntes, no fundo do oceano ou meio escondidos nas zonas entre-marés, os invertebrados marinhos são um vastíssimo grupo de animais, com estratégias de vida e características impressionantes. Sete especialistas em biodiversidade marinha escolheram as espécies de Portugal que consideram mais fascinantes. E explicam porquê.

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Um coral-vermelho que é “um resistente dos mares”, uma cenoura-do-mar que emite luz, uma lesma com muito mais do que beleza e uma esponja carnívora. Conheça estas e outras espécies que habitam em águas portuguesas, mas que parece que vieram de outro mundo.

1. Morango-do-mar (Actinia equina, Actinia schmidti)

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Ana Pereira

Os morangos-do-mar estão entre os invertebrados marinhos que mais interesse despertam a Ana Pereira, investigadora que tem trabalhado com várias anémonas-do-mar no Mare – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, no núcleo do ISPA-Instituto Universitário. Neste grupo de anémonas vermelhas há duas espécies impossíveis de distinguir a olho nu, a Actinia equina e a Actinia schmidti, que conseguem reproduzir-se sexuada e assexuadamente. “As anémonas geram assexuadamente pequenos pólipos que incubam dentro do seu corpo e que são clones delas próprias”, explica. Cada anémona consegue incubar mais de uma centena de pólipos, que crescem no seu interior e são libertados quando o animal está em stress. Pode libertar poucos ou muitos pólipos de uma vez, entre dez e uma centena, “dependendo do tamanho do adulto e do estado de incubação”.

2. Hidrocoral (Errina dabneyi)

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Emmanuel Arand/ImagDop

Esta espécie de coral é endémica dos Açores, ou seja, até hoje só foi encontrada em mares açorianos. Íris Sampaio, investigadora do Mare no Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, explica que o nome científico deste hidrocoral foi inspirado no apelido da família Dabney, que “teve um grande impacto na vida social e económica do Faial”. O consulado norte-americano manteve-se nesta família por quase três gerações, por quase todo o século XIX. Uma das filhas desta família enviou um espécime de Errina dabneyi para o Museu de Zoologia Comparativa de Harvard, onde a espécie foi descrita para a ciência em 1871.

3. O coral-negro (Leiopathes glaberrima)

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Na ilha do Faial Íris Sampaio

Os corais-negros são assim chamados porque o esqueleto calcário que têm por dentro é preto, embora quando vivos esse esqueleto fique escondido e assumam uma cor clara. O maior invertebrado marinho do mundo é um coral deste género (Leiopathes), que tem cerca de 4000 anos e vive nas ilhas do Havai, sublinha a investigadora Íris Sampaio. Em águas açorianas também têm sido recolhidos espécimes de corais-negros, da espécie Leiopathes glaberrima, que atingem dimensões muito consideráveis e que foram datados como tendo um máximo de 2320 anos.

4. Esponja ninho-do-mar (Pheronema carpenteri)

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Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental

Apelidada de ninho-do-mar devido à sua aparência, esta esponja forma habitats complexos em mar profundo, denominados campos de Pheronema. Estes habitats cobrem grandes extensões e são considerados hotspots de biodiversidade, indica Joana Xavier, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (Ciimar), da Universidade do Porto. “Albergam uma grande variedade de outros organismos marinhos, como pequenos crustáceos, anelídeos e peixes, que neles encontram as condições ideais para viverem e se reproduzirem”, afirma esta investigadora. Esses habitats têm também um papel muito importante no equilíbrio ecológico dos oceanos, pois são essenciais “na transferência e reciclagem de nutrientes como o carbono, azoto e sílica.”

5. Esponja carnívora de Ballard (Chondrocladia robertballardi)

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F. SanchezI/IEO

A vasta maioria das esponjas obtém alimento e oxigénio através da filtração de grandes quantidades de água. Mas não as esponjas carnívoras. Estas “têm a particularidade de ‘capturar’ pequenos crustáceos através de estruturas modificadas em forma de balão ou filamentos”, descreve Joana Xavier. A investigadora do Ciimar adianta que esta transição para um modo de alimentação carnívora terá acontecido “num único evento evolutivo, possivelmente como adaptação a ambientes de mar profundo com escassez de alimento”. A esponja carnívora de Ballard foi descrita para a ciência em 2015 com base em exemplares recolhidos nos bancos submarinos do Gorringe e da Galiza e dedicada a Robert Ballard. Este explorador norte-americano e ex-oficial da marinha liderou a campanha oceanográfica durante a qual esta nova espécie foi encontrada, a bordo do navio Nautilus.

6. Dragão-azul (Glaucus atlanticus)

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Taro Taylor/WikiCommons

Esta lesma-do-mar, de tons azuis-prateados, tem muito mais do que beleza. É uma das espécies de invertebrados marinhos mais fascinantes para Gonçalo Calado, biólogo e professor catedrático da Universidade Lusófona. Com cerca de três centímetros, o dragão-azul é um predador da caravela-portuguesa (Physalia physalis), espécie altamente venenosa. Consome a medusa inteira e selecciona e retém as células urticantes desta para se defender quando se sentir em perigo. Mas nada temos a recear porque, garante Gonçalo Calado, esta lesma-do-mar “não é perigosa para o homem”. O dragão-azul vive na coluna de água dos oceanos Atlântico (especialmente nos Açores), Pacífico e Índico, flutuando “de costas”, com a parte ventral azul pálida para a superfície e a face dorsal azul-prateada para baixo, graças a uma bolha de ar que engole e retém no estômago. Confunde-se assim com a cor do mar para os predadores do ar e passa despercebido junto dos predadores que vivem no mar. Uma camuflagem perfeita.

7. A lesma-do-mar (Elysia viridis)

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Bruno Jesus

Um animal que se comporta, ecologicamente, como uma planta é um ser fascinante. É o caso da Elysia viridis, a mais abundante das lesmas-do-mar movidas a energia solar de Portugal continental. Segundo Gonçalo Calado, este animal vive sobre as algas verdes do género Codium, na zona entre-marés, das quais se alimenta. Ao consumir as algas, as lesmas “retêm os cloroplastos (as ‘fábricas’ das células vegetais) das algas e transferem-nos para as suas próprias células”, explica o biólogo. “Durante algum tempo, dias ou meses consoante a espécie, os cloroplastos continuam a fazer fotossíntese”. Assim, esta lesma-do-mar, um animal, comporta-se como uma planta, com os cloroplastos “roubados” à alga a produzir carbono nas suas próprias células. Segundo Gonçalo Calado, este é um tipo de simbiose “que não se conhece em nenhum outro grupo animal”.

Coral-vermelho-precioso (Corallium rubrum)

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Andreas Hagberg GUE/CCMAR

Este coral impressionante “é um resistente dos mares”, diz Joana Boavida, bióloga marinha do Centro Nacional de Investigação Científica francês (CNRS) e do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) no Algarve. É um “animal colonial de crescimento excepcionalmente lento (menos de 0,5 milímetros por ano) e longevidade centenar, capaz de se regenerar continuamente, evitando o envelhecimento”. Isto porque, “apesar de alguns pólipos de coral morrerem, o resto da colónia forma continuamente novos pólipos geneticamente idênticos”. Dele dependem grandes peixes, lagostas, caranguejos e moluscos. E também pescadores e a indústria da joalharia, por exemplo. Este coral é explorado há milénios, incluindo no Reino dos Algarves há séculos. Tem conseguido sobreviver, mas nas últimas décadas, os luxuriantes jardins de coral têm desaparecido, dando lugar a planícies com poucos centímetros de altura. “A apanha quase total dos maiores corais causou uma profunda alteração ecológica, com efeitos em cascata no ecossistema.”

Camarão-limpador-listado (Lysmata uncicornis)

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Ricardo Calado

É a mais recente espécie de camarão limpador do género Lysmata a ser registada nas águas costeiras de Portugal continental, em 2006, talvez porque “as águas deixaram de estar tão frias”, segundo Ricardo Calado, investigador da Universidade de Aveiro. Estes camarões podem medir cerca de seis centímetros e parecem-se com aqueles doces com listas brancas e vermelhas. Partilham os abrigos com moreias e safios, sendo comum observá-los a limpar estes peixes, e as suas larvas podem atravessar todo o oceano Atlântico ao sabor das correntes. Mas o que torna estes crustáceos fascinantes para Ricardo Calado é a sua estratégia única de reprodução. “Nascem machos mas, passados um ou dois anos, passam a ser macho e fêmea, simultaneamente”, podendo assim ter o dobro da descendência. São hermafroditas simultâneos, ainda que não se possam auto-fertilizar.

Cenoura-do-mar (Veretillum cynomorium)

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Parent Géri/Wiki Commons

Esta espécie bioluminescente pode ver-se em praias portuguesas durante a noite, junto à linha de água, onde emite uma luz alaranjada. Habita os fundos arenosos da zona entre-marés e também a maiores profundidades e costuma estar meio enterrada na areia. São animais coloniais, tal como os corais e as gorgónias, ou seja, são constituídos por muitos indivíduos que vivem associados. “Quando a maré sobe, as cenouras-do-mar aumentam várias vezes de tamanho, mostrando os pólipos distendidos dos animais que habitam a colónia”, descreve Adelaide Ferreira, investigadora do Mare na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. “Se lhes dermos um toque, um pequeno piparote, podemos ver todo o corpo do animal iluminar-se em tons de azul e verde.”

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