Netanyahu promete anexar o Vale do Jordão se for reeleito
Primeiro-ministro israelita quer “estender a soberania israelita” na Cisjordânia e nos territórios palestinianos junto ao Mar Morto. Plano tem aval de Trump e irá a exame nas legislativas da próxima semana.
A uma semana da realização das eleições legislativas em Israel, Benjamin Netanyahu prometeu anexar o Vale do Jordão, na Cisjordânia, e outros territórios palestinianos localizados na região Norte do Mar Morto. Anunciado esta terça-feira, o plano é o mais recente trunfo do primeiro-ministro israelita, tendo em vista a luta pela sua reeleição e a angariação de apoios junto dos partidos à direita.
“Hoje anuncio a intenção de estender a soberania israelita ao Vale do Jordão e ao Norte do Mar Morto, depois da constituição do novo Governo”, proclamou Netanyahu num discurso televisivo, a partir da cidade de Ramat Gan, no qual reforçou o carácter securitário do projecto e deixou implícito que o mesmo tem a aprovação do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O chefe do Governo israelita referiu mesmo que o plano de paz da Administração Trump para a resolução do conflito israelo-palestiniano – ou “acordo do século”, segundo o Presidente norte-americano –, que a Casa Branca promete revelar depois das eleições de 17 de Setembro, consubstancia uma “oportunidade histórica” para se levarem a cabo novas anexações na Cisjordânia.
“Desde a Guerra dos Seis Dias [1967] que não temos esta oportunidade e duvido que voltemos a tê-la nos próximos 50 anos. Dêem-me o poder para garantir a segurança de Israel. Dêem-me o poder para definir as fronteiras de Israel”, suplicou Netanyahu.
O Vale do Jordão estende-se ao longo do rio com o mesmo nome, e vai desde o Mar Morto, a Sul, até à cidade israelita de Beit Shean, a Norte. Tem uma área calculada de 2400 quilómetros quadrados e equivale a cerca de 30% da Cisjordânia.
Para além de porem em causa as reivindicações territoriais palestinianas, os planos anunciados pelo primeiro-ministro israelita, que sempre defendeu a necessidade de se anexarem mais territórios, de se estender a influência israelita na região e de lutar contra “os perigos de um Estado palestiniano para a existência” de Israel, prometem agitar a última semana de campanha eleitoral.
Segundo as sondagens, o partido do primeiro-ministro, o Likud (direita), encontra-se numa situação de empate técnico com a Lista Azul e Branca (centro), do antigo chefe do Exército, Benny Gantz, na corrida pelos 120 lugares do Knesset – o Parlamento israelita.
A promessa de novas expansões para a Cisjordânia e a colocação do conflito israelo-palestiniano no centro do debate político na recta final da campanha são posições que agradam aos partidos conservadores que podem vir a constituir a base de uma possível coligação de direita. Mais do que isso, pretendem chegar aos eleitores que, mesmo não corroborando na íntegra a estratégia de Benjamin Netanyahu, duvidam que seja possível haver um acordo de paz no curto ou médio prazo e apostam, por isso, no elemento securitário da mensagem do Governo.
Israel ocupou a Cisjordânia, Jerusalém Ocidental, a Faixa de Gaza e os Montes Golã sírios na guerra no Médio Oriente em 1967, territórios que não constavam do plano aprovado pelas Nações Unidas em 1947. Em 1980 anexou Jerusalém Ocidental e no ano seguinte os Montes Golã, em 1981. Desde essa altura que tem vindo a expandir a edificação de colonatos judeus em território palestiniano – vivem, actualmente, cerca de 600 mil judeus nestas propriedades.
Estas anexações não foram reconhecidas internacionalmente, à excepção dos EUA que, sob a liderança de Trump, avançaram ainda para a transferência da embaixada norte-americana, de Telavive para Jerusalém, reconhecendo esta última cidade – onde se situam santuários importantes das três religiões monoteístas – como capital do Estado de Israel.
Os palestinianos reclamam, no entanto, toda a Cisjordânia para o seu futuro Estado independente. Não foi, por isso, invulgar, que o primeiro-ministro palestiniano, Mohammad Shtayyeh, tenha criticado esta terça-feira a utilização do território disputado na campanha eleitoral israelita.
“O território da Palestina não pode fazer parte da campanha eleitoral de Netanyahu. Se ele acredita que anexar e construir colonatos lhe oferecerá votos a curto prazo, ele e Israel serão perdedores a longo prazo”, acusou Shtayyeh, citado pelo jornal israelita Haaretz.