Carlos Bolsonaro: “Por vias democráticas, a transformação não acontecerá”

Filho do Presidente brasileiro diz que o Governo do pai “vem desfazendo absurdos”, mas queixa-se de que “os avanços são ignorados e os malfeitores esquecidos”. Bastonário da Ordem dos Advogados responde: “Não há como aceitar uma família de ditadores.”

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O bastonário dos advogados chamou "família de ditadores" aos Bolsonaro Reuters/RAHEL PATRASSO

Carlos Bolsonaro, filho do Presidente brasileiro Jair Bolsonaro, está a ser criticado por ter dito que não haverá mudanças rápidas no país “por vias democráticas”. Em resposta, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, disse que “não há como aceitar uma família de ditadores”.

A polémica começou na noite de segunda-feira, quando Carlos Bolsonaro, vereador da cidade do Rio de Janeiro, escreveu na rede social Twitter o que pensa da situação política no país: “O governo Bolsonaro vem desfazendo absurdos que nos meteram no limbo e tenta nos recolocar nos eixos. O enredo contado por grupelhos e os motivos cada vez mais claro$ lamentavelmente são rapidamente absorvidos por inocentes. Os avanços ignorados e os malfeitores esquecidos”, disse Carlos Bolsonaro.

“Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos… e se isso acontecer. Só vejo todo o dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes”, queixou-se o filho do Presidente do Brasil.

Esta não é a primeira vez que um elemento da família Bolsonaro faz declarações que podem ser entendidas como ataques à democracia.

Em Abril de 2016, o então deputado federal Jair Bolsonaro dedicou o seu voto a favor da destituição de Dilma Rousseff “à memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra” – o comandante do principal centro de repressão e tortura do Exército durante a ditadura militar brasileira, onde Rousseff esteve detida entre 1970 e 1972.

Na semana passada, o Presidente brasileiro elogiou também a ditadura de Augusto Pinochet num ataque contra a alta comissária da ONU para os direitos humanos e antiga Presidente do país, Michelle Bachelet.

“Michelle Bachelet, seguindo a linha do [Emmanuel] Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares”, disse Jair Bolsonaro no Facebook.

“Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época”, acrescentou, numa referência a Alberto Bachelet, um general da Força Aérea que se opôs ao golpe militar de 1973 e que acabou por morrer na prisão, em 1974, aos 50 anos.

Um ano depois, em 1975, Michelle Bachelet foi também presa e torturada pelo regime de Pinochet.

"Família de ditadores"

Uma das críticas mais duras às declarações de Carlos Bolsonaro foi feita pelo bastonário da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, que esteve envolvido noutra polémica com a família Bolsonaro, em Junho. Nessa altura, o Presidente brasileiro disse que o pai de Felipe Santa Cruz, que fazia parte de um grupo de esquerda, foi morto por companheiros e não pelo Exército, durante a ditadura militar, contrariando as conclusões da Comissão Nacional de Verdade. O bastonário acusou Jair Bolsonaro de “crueldade e falta de empatia”.

Desta vez, Santa Cruz disse que “não há como aceitar uma família de ditadores”, referindo-se à família Bolsonaro. “É hora de os democratas do Brasil darem um basta. Chega”, disse o responsável ao jornal Folha de São Paulo.

O filho do Presidente brasileiro disse também no Twitter que está “muito tranquilo” e que o poder “jamais” o seduziu. Carlos Bolsonaro, de 36 anos, é vereador no Rio de Janeiro há 18 anos.

O seu pai, Jair Bolsonaro, foi também vereador do Rio de Janeiro, entre 1989 e 1991, e depois disso nunca mais saiu da política – foi deputado federal pelo Rio de Janeiro até finais de 2018, e assumiu a Presidência da República a 1 de Janeiro de 2019.

O filho mais velho do Presidente brasileiro, Flávio Bolsonaro, tem 38 anos e foi deputado estadual pelo Rio de Janeiro durante 16 anos, entre 2003 e Janeiro de 2019, e é agora senador. Em Maio, o Ministério Público do Rio de Janeiro disse que há fortes indícios de peculato e lavagem de dinheiro no gabinete de Flávio Bolsonaro, entre 2007 e 2018 – uma acusação que o actual senador nega, dizendo que está a ser vítima de um plano com motivações políticas.

O seu irmão mais novo, Eduardo Bolsonaro, é deputado federal pelo estado de São Paulo desde 2015. Em Outubro de 2018, foi revelado um vídeo, gravado três meses antes, em que sugeria o encerramento do Supremo Tribunal Federal se os juízes indeferissem a candidatura do seu pai à Presidência. Eduardo é também a escolha do Presidente para embaixador em Washington, apesar de não ter qualquer experiência como diplomata.

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