Alterações climáticas ameaçam a sobrevivência dos lagartos
Se o aquecimento do planeta continuar na tendência actual, muitas espécies de lacertídeos, sobretudo as adaptadas a climas frios e húmidos, poderão tornar-se mais vulneráveis.
Uma equipa internacional, em colaboração com o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-InBio), concluiu que o aumento das temperaturas provocado pelas alterações do clima pode vir a pôr em risco a sobrevivência dos lagartos.
Em comunicado, o centro de investigação da Universidade do Porto explica que a investigação, publicada agora na revista Nature Communications, visava responder à questão “como prever o efeito das alterações climáticas, nomeadamente da temperatura, na sobrevivência dos lagartos nos diferentes ambientes?”.
“Muitas populações de lagartos estão a decrescer como consequência do aumento da temperatura global associado às alterações nos regimes de chuva, perda de habitat e fragmentação”, adianta o Cibio-InBio.
Desta forma, 45 investigadores de 17 países juntaram-se para estudar a análise genómica e a fisiologia de um grupo de lagartos – os lacertídeos –, que está amplamente distribuído pela Europa, Ásia e África.
Os investigadores analisaram o genoma de mais de 260 espécies de lacertídeos com o intuito de “inferir a sua história evolutiva” e realizaram experiências para determinar a temperatura preferida destes animais, bem como a sua tolerância à falta de água em condições áridas.
“Conforme já observado noutros lagartos, o estudo agora publicado aponta que muitas espécies de lacertídeos vivem hoje em ambientes onde as condições climáticas são muito próximas aos limites da sua fisiologia”, frisa o centro de investigação.
“Apesar dos lacertídeos se terem originado num período de clima quente, à medida que a temperatura do planeta posteriormente arrefeceu, um grupo de espécies, que inclui muitas das agora presentes em Europa, adaptou-se e passou a ocupar regiões de clima frio”, explica Miguel Carretero, co-autor do artigo citado no comunicado sobre o trabalho, que inclui ainda do Cibio-InBio os investigadores James Harris, Daniele Salvi e Anamarija Žagar.
“O que foi adequado para o passado pode agora colocá-los no limite da extinção se a tendência actual de aquecimento do clima continuar”, salienta Miguel Carretero.
Tendo em conta que a sobrevivência de muitas espécies poderá estar ameaçada pelo aumento rápido das temperaturas, os investigadores identificaram dois grupos de “especial interesse” e “prioritários para a conservação”: os lacertídeos de zonas tropicais e os que habitam em zonas de clima temperado, como na Europa.
“Na Península Ibérica, a diversidade de lagartos abrange espécies adaptadas tanto a climas quentes e secos quanto a frios e húmidos. De acordo com nosso estudo, as espécies de climas frios e húmidos serão as mais expostas às mudanças previstas no clima, entre elas espécies endémicas como a lagartixa-da-montanha, a lagartixa-de-carbonell e a lagartixa-de-valverde”, refere ainda Miguel Carretero.
“Se nada for feito para minimizar os efeitos das alterações climáticas a curto prazo, outras espécies com características fisiológicas similares podem ser igualmente afectadas”, alerta o investigador.