Nem outra demissão no Governo demove Boris Johnson de conseguir o “Brexit” sem acordo
Confirmação foi dada após demissão da ministra Amber Rudd. Rainha poderá promulgar na segunda-feira proposta de lei que trava a saída da União Europeia sem acordo.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, não irá pedir um segundo adiamento do “Brexit” na próxima cimeira de líderes europeus que acontecerá em Outubro. O encontro terá lugar dias antes do prazo para a saída definitiva do Reino Unido da União Europeia, agendado para o dia 31 do próximo mês.
A decisão foi confirmada por dois ministros de Johnson na sequência da demissão da ministra do Trabalho e das Pensões, Amber Rudd, na noite de sábado, em protesto contra a expulsão de 21 militantes do Partido Conservador que votaram favoravelmente a proposta de lei para impedir um “Brexit” sem acordo, à revelia das ordens do primeiro-ministro.
Boris Johnson já tinha deixado a garantia, na quinta-feira, de que não iria a Bruxelas pedir um prolongamento do acordo até 31 Janeiro de 2020 — “preferia estar morto numa valeta”. O hard “Brexit” era um dos objectivos defendidos pelo líder conservador, mas a semana semeada de derrotas em Westminster pode obrigá-lo a colocar um travão nessas aspirações. Na terça-feira, o Governo britânico deixou de usufruir da curta maioria que detinha no Parlamento, ao perder o deputado conservador Phillip Lee para os Liberais Democratas.
Com esta transição, Boris Johnson perdeu o poder para aprovar moções ou propostas de lei: a oposição conta agora com 320 deputados, enquanto o Governo — englobando o Partido Conservador e dez deputados unionistas da Irlanda do Norte — tem 319 votos. Nesse mesmo dia, a Câmara dos Comuns aprovou, por 328 votos contra 301, uma moção para assumir a iniciativa legislativa sobre o processo do “Brexit”. Johnson tinha ameaçado os deputados conservadores que aprovassem a moção de perderem a capacidade de votar no Parlamento e de serem automaticamente afastados das listas do partido nas próximas eleições: 21 deles não se sentiram intimidados e votaram ao lado da oposição.
A proposta de lei que trava um “Brexit” sem acordo foi aprovada na quarta-feira. O último passo é a promulgação pela rainha, que pode acontecer esta segunda-feira. Se Isabel II o fizer, como se espera, o primeiro-ministro será obrigado, por lei, a pedir um novo adiamento do prazo de saída a Bruxelas, de 31 de Outubro para 31 de Janeiro de 2020.
Esta foi a alternativa encontrada pela oposição à decisão tomada por Boris Johnson de suspender o Parlamento até ao dia 14 de Outubro. O objectivo do primeiro-ministro seria tirar tempo aos deputados para impedirem o Governo britânico sair sem acordo da UE.
O primeiro-ministro desafiou ainda a oposição a aprovar a marcação de eleições antecipadas para dia 15 de Outubro. O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, recusou a proposta, explicando que apenas pensaria nesse cenário depois de ficar garantido que o país não sai da UE sem acordo.
O prazo para a saída do Reino Unido da UE já foi prolongado em Abril, por um período de seis meses, a pedido da ex-primeira-ministra Theresa May. Esta semana será decisiva para perceber se essa situação se voltará a repetir, apesar da resistência do Governo.