Jerónimo de Sousa defende que só a CDU “consegue evitar a maioria absoluta do PS”
Líder comunista acena com possibilidade de haver retirada de direitos adquiridos se houver uma mudança de política em Portugal.
Todos os anos, o secretário-geral do PCP abre a Festa do Avante! com uma mensagem aos militantes. Esta sexta-feira, decidiu responder aos críticos que desdenham da festa comunista dizendo-lhes que são como a raposa que “salta, salta, mas não consegue chegar às uvas”. “Estão verdes, não prestam”. A imagem utilizada por Jerónimo de Sousa serviu de mote para um pequeno discurso no qual elogiou a capacidade de mobilização do partido ao contrário de outros, disse, e na qual apelou a uma concentração rumo às eleições legislativas, porque a CDU é a força para “evitar a maioria absoluta do PS”.
Este é o objectivo número um dos comunistas: combater a “vontade do grande capital” que já deu mostras, disse Jerónimo, de tudo estar a fazer para “garantir a maioria absoluta do PS e enfraquecer a força da CDU”. “Se ficar com as mãos-livres o PS pode tender a retroceder”, disse mais tarde numa entrevista à RTP.
As intervenções do secretário-geral do PCP têm sido na senda de atribuir ao partido o papel de força que fez a diferença dentro do Governo, promotora de alguns avanços na política e peça que impediu o PS de fazer outras alterações. Desta vez, e depois de António Costa ter escolhido o BE como inimigo, Jerónimo de Sousa carregou nas tintas para pedir mais força porque "a CDU é a força que verdadeiramente pode fazer frente ao projecto do grande capital”. “O voto na CDU conta e conta bem para evitar a maioria absoluta do PS”, acrescentou. Na visão do comunista, só assim é possível evitar que o país ande para trás: “Os portugueses, se querem ver o país a andar para a frente e impedir qualquer retrocesso, têm na CDU a força que o garante. É preciso que os trabalhadores e o povo não vão ao engano”.
Nesta curta mensagem, o líder dos comunistas deixou algumas campainhas de alarme. Disse Jerónimo que “os direitos não estão adquiridos para todo o sempre” e que há sinais de políticas que podem “voltar para trás”. “Esta legislatura não acabou e o Governo já está a tentar dar o dito por não dito na gratuitidade dos manuais escolares, no direito das crianças terem um livro novo”, disse, sobre o facto de algumas crianças do primeiro ciclo estarem com livros reutilizados, muitos deles em más condições.
Para Jerónimo há ainda outros “sinais de convergência” entre “PS, PSD e CDS”, sobretudo “no que toca a abrir a bolsa de dinheiro para a banca e nas leis laborais”. Acresce a estes temas uma possível “revisão da Constituição” sobre o sistema político, disse, que impediria “uma verdadeira política alternativa”.
Este receio do secretário-geral do PCP acontece porque, diz, houve “avanços limitados e insuficientes porque o Governo minoritário do PS decidiu dar os pulsos às algemas do défice e da dívida” e como tal os avanços feitos, insuficientes, podem vir a ser postos em causa porque “os grandes interesses” não “desistiram dos seus objectivos”.
Arrancou esta sexta-feira a 43ª Festa do Avante!, na quinta da Atalaia no Seixal, a festa que marca oficialmente a rentrée do PCP.