Da frustração, Ricardo criou um site que desafia todos a agir pelo planeta

Ricardo Gonçalves pegou na “avalanche de informação” sobre alterações climáticas, dissecou-a e organizou os dados num site de possíveis acções individuais para reduzir as emissões de CO2. “As pessoas são livres de tomarem as decisões que querem; no entanto, as tuas decisões são tão boas quanto a informação que tens”, defende.

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Berto Macario/Unsplash

Ricardo queria reduzir a pegada ecológica, mas a cada passo que dava, mais o caminho se enchia de carros poluentes e buracos de informação. “Sentia-me completamente impotente perante um problema que parece cada vez mais gigante”, conta o designer freelancer de experiências digitais.

O problema não arrefeceu, mas a “frustração” de Ricardo Gonçalves perante uma crise global foi-se transformando em acções individuais com impacto positivo (ou, pelo menos, nulo). Uma delas está agora disponível para todos que, como ele, se sentem “sobrecarregados e confusos” com a “avalanche de informação” — credível ou menos credível, acessível a todos ou não — sobre as alterações climáticas. Ricardo criou o Small Big Changes, um site que reúne as principais mudanças comportamentais e de consumo a considerar por quem quer contribuir para a mitigação das alterações climáticas.

A lista, suportada por artigos científicos, vai desde decisões ponderadas e com grande impacto, como ter menos filhos (ou nenhum), a acções mecanizadas, como separar o lixo em casa e no trabalho. Sempre que encontrou “medições já feitas, de fontes científicas credíveis”, o designer incluiu os quilogramas de dióxido de carbono, o único gás de efeito estufa considerado, que poderiam ser poupados por ano e por indivíduo. Para isso, criou uma “eco-pontuação”, inspirada na nutri-score, que oscila desde o A (mais de dez mil quilogramas de CO2 poupados anualmente) a E (menos de dez quilogramas de CO2).

O objectivo não é ser uma lista do único caminho a seguir para manter o aquecimento global abaixo dos dois graus Celsius, objectivo definido no Acordo de Paris de 2015. Tal como não serve para desresponsabilizar as grandes empresas e governos. Antes, Ricardo quer aquecer a discussão e dar poder a quem nela entra. “Ter esta informação de forma clara, sucinta e baseada em factos num só sítio e divulgá-la é a minha forma de lidar com esta frustração. As pessoas são livres de tomarem as decisões que querem; no entanto, as tuas decisões são tão boas quanto a informação que tens”, defende. 

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Ricardo Gonçalves, 31 anos, vive em Matosinhos e criou o site Small Big Changes DR

Ricardo Gonçalves, 31 anos, começou a deslocar-se de bicicleta, diminuiu o consumo de carne, está a considerar instalar painéis solares. Quando conseguiu deixar o trabalho a tempo inteiro, fê-lo para guardar dez horas por semana para “projectos pessoais com maior impacto” — e esta página é o primeiro deles. “Tornar-se um embaixador pelo planeta”, aliás, é uma das propostas no site que também foi pensado para utilizar menos energia. “É por isso que tem um fundo negro” e é “estático [o conteúdo da página é igual para todos os que a visitam]”. “Ainda não consegui ter o site alojado num servidor cuja electricidade venha de energias renováveis, mas estou à procura.”

Da mesma forma, “é difícil fazer tudo o que está ali”, reconhece. Instalar painéis solares, por exemplo, pode não estar ao alcance do bolso de toda a gente. Mas comprar menos roupa, pensar outras formas de viajar antes do avião e desligar o ar condicionado até pode deixar a carteira mais leve. Foi assim que Ricardo, que já viveu em Tóquio, Londres e Zurique, aprendeu a olhar para o espaço (e os recursos) que ocupava no planeta: “Só podemos controlar o que podemos controlar.” 

Um exemplo recente (e inspirador) de uma acção individual que se transformou num movimento global é a greve à escola de Greta Thunberg, que saltou das escadas do parlamento sueco para as ruas de todo o mundo, com milhões de jovens (e não só) a juntarem-se aos protestos que já chegaram aos decisores políticos. “Quando abres o site vês globos a voar de um lado para o outro. São cursores de pessoas que já o visitaram. Uma das coisas que mais ouvi quando falava com os meus amigos era ‘mas eu sozinho não vou mudar nada’. Eu queria comunicar, de uma forma mais visual, que nós não estamos sozinhos. Estas mudanças realmente são pequenas, mas se estivermos nisto todos juntos, elas fazem a diferença.” 

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